Em entrevista à Rádio Gaúcha, na manhã desta quinta-feira (18), o presidente da Federação das Santas Casas do Rio Grande do Sul, Luciney Bohrer, fez um novo apelo para alertar que o estoque de medicamentos pode terminar já na sexta-feira em alguns dos 269 hospitais da rede filantrópica. Além da falta de recurso financeiro, ele ressaltou que as dificuldades com fornecedores se agravaram nos últimos dias e que a falta de oxigênio também é preocupante. Atualmente, esta rede é responsável por mais de 50% dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) covid-19 no Estado.
As Santas Casas também são responsáveis por 2.018 leitos gerais de UTIs de um total de 3.005 no Rio Grande do Sul, ou seja, 67% do atendimento do SUS em geral. Em 220 municípios gaúchos, por exemplo, é a única casa de saúde disponível.
O alerta da entidade sobre as dificuldades já havia sido feito no início do mês e ocorreram audiências sobre o fato em Brasília e também em Porto Alegre.
Na quarta-feira (17), Bohrer participou de videoconferência na Assembleia Legislativa, e os deputados acenaram para repasses dos próprios orçamentos.
— Alertamos há dias, está cada vez mais mais crítico e estamos trabalhando 24 horas para manter as portas abertas. Mas o medicamento é o ponto crítico. Em alguns hospitais, termina o estoque amanhã, sexta-feira, o que nos causa angústia. Não sabemos o que fazer no momento que um paciente bater sem saber se podemos receber — alerta Bohrer.
Ainda há medicamentos porque os hospitais usaram suas reservas, mas Bohrer lembra que a situação estaria melhor hoje se remédios tivessem sido importados em fevereiro.
Oxigênio
Segundo a Federação, o problema da falta de oxigênio ocorre em duas etapas. A primeira é a dificuldade com os fornecedores, que passaram a exigir pagamento adiantado nos últimos dias. A outra etapa, é a falta mesmo de recurso financeiro.
Segundo Bohrer, não houve repasse suficiente para enfrentar a covid-19. O governo federal, explica, repassa diária de R$ 1,6 mil, mas somente com anestésico, por dia, para um paciente, o gasto médio é de R$ 1 mil, fora o gasto total de diária por paciente que fica entre R$ 3 mil e R$ 3,4 mil.
Sobre a questão do oxigênio ainda, a entidade destaca a necessidade do mercado ser regulado e do executivo, de uma forma geral, realocar equipamentos de uma região para outra. Os hospitais da Capital, por exemplo, também têm aporte financeiro do município, e os grandes hospitais em geral, no Estado todo, possuem tanque de oxigênio.
Bohrer destaca que o problema principal é com os locais pequenos, já que a falta maior é de cilindros de oxigênio para as emergências.
Internações
Bohrer diz ainda que, após a bandeira preta em todo o Rio Grande do Sul, houve grande procura pelos hospitais. Passados alguns dias, ele confirma que a demanda externa por UTI diminuiu, mas em contrapartida, a demanda interna aumentou. Segundo ele, caiu um pouco o número de pessoas que chegam da rua e que são internadas em UTIs. O problema agora é o grande volume de pacientes nas enfermarias e que têm o quadro de saúde agravado, sendo necessária a transferência para uma UTI.
— Para evitar um colapso, precisamos de uma nova fonte de recursos, pedimos ao governo gaúcho há 15 dias. Além disso, estamos em situação crítica de recursos humanos — diz Bohrer.