Das projeções feitas por economistas gaúchos na virada do ano às tendências traçadas pela revista britânica The Economist para 2021, a principal variável é a mesma: o ritmo da vacinação.
Portanto, a gestão do Plano Nacional de Imunização (PNI) determina as perspectivas para a economia. É por isso que a troca do Ministério da Saúde, pedida pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), faria bem à economia.
A entidade é comandada pelo prefeito de Saldanha Marinho, Glademir Aroldi, do Progressistas, um dos partidos que deu maioria confortável para eleger um aliado do presidente Jair Bolsonaro para a presidência da Câmara dos Deputados. Então, quem leu até aqui pode dispensar o já velho e ruim recurso de chamar de "comunista" qualquer questionamento à competência do governo federal.
A nota da CNM afirma que o "comando (do Ministério da Saúde) não acreditou na vacinação como saída para a crise e não realizou o planejamento necessário para a aquisição de vacinas". Em consequência, os prefeitos "assistem e vivem desesperadamente a angústia e o sofrimento da população que corre aos postos de saúde na busca de vacinas" e manifestam "indignação com a condução da crise sanitária".
Em entrevista à Rádio Gaúcha, Aroldi detalhou "falta de iniciativa e de planejamento na condução de processos tão grave" e descaso em relação aos riscos da variante brasileira do Sars-cov-2, o vírus que causa a covid-19.
Se fossem necessárias mais evidências, depois do escândalo da gestão da falta de oxigênio no Amazonas, há uma que a população brasileira vê sem filtros: estão terminando as escassas doses de vacinas que chegaram à ponta sem alcançar os públicos absolutamente prioritários, os profissionais de saúde que atuam presencialmente e os idosos. Em Porto Alegre, nem a faixa etária acima de 80 anos será imunizada antes que os ralos estoques terminem.
A essa altura, já empalideceram os desmandos na obtenção de seringas, que expuseram a a falta de coordenação no Ministério da Saúde. Há uma discussão sobre o que é incompetência e o que é inação deliberada, como argumenta a CNM e como sugeriu o próprio "especialista em logística" Eduardo Pazuello, ao dizer que "um manda e outro obedece", referindo-se à ordem do presidente Jair Bolsonaro para cancelar protocolo para compra da Coronavac.
A evidência de que o governo federal não conseguiu montar um plano de imunização minimamente eficiente é o surgimento da campanha Unidos pela Vacina, liderada pela empresária Luiza Trajano. A presidente do conselho de administração do Magazine Luiza se esforça para não criticar o governo, mas a simples existência da iniciativa mostra que que não há plano para salvar nem vidas, nem a economia.