Nhonho. Maria Fofoca. Despreparado, desleal e fura-teto. Imposto de m@&!a. Outubro virou o mês de expressões drásticas no Planalto. O ministro da Economia, Paulo Guedes, abriu o clima BBB no início do mês, chegou ao palavrão e, nesta quinta-feira (29), acusou os bancos de tentar derrubá-lo.
O vocabulário extremo revela o nível de pressão, mas também indica que o governo vive uma fase descrita no ditado popular "em casa que não tem pão, todos brigam e ninguém tem razão".
Nesta quinta-feira (29), Guedes teve mais um episódio de destempero verbal, ao afirmar, no Congresso, que a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) é uma "casa de lobby" que financia "ministro gastador para ver se fura teto e derruba o outro lado". O lobby do qual reclamava é contra a volta da CPMF e o fura-teto é o de sempre, seu colega do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. Ou seja, Guedes acusou a Febraban de tentar derrubá-lo.
Na véspera, o Banco Central (BC) provocou surpresa por ter mantido o discurso de "espaço remanescente" para reduzir juro, apesar do maior cuidado que pretende tomar com a inflação. Foi no dia em que novos lockdowns na Alemanha e na França trouxeram de volta a turbulência no mercado financeiro, inclusive no Brasil. Era só o que faltava para comprometer, quase que irremediavelmente, a ambição da recuperação em V.
Até o habitualmente discreto presidente do BC, Roberto Campos Neto, foi acusado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) de "não estar à altura do cargo" por ter supostamente vazado uma conversa privada entre os dois. O diálogo era uma tentativa de destravar as votações na Casa. Ao menos neste caso, Maia voltou atrás e afirmou ter "confiança" em Campos Neto.
A menos que uma vacina chegue a galope, o foco volta para uma saída em raiz quadrada, com risco de formação de um W: cai, volta, e cai de novo para retomar depois. Mesmo no Brasil, onde a demanda cresceu tanto que ajudou a provocar escassez de insumos e aumento de preços, pode haver impacto. Ainda mais que, agora, não se trata mais apenas de falta de dinheiro para bancar o programa social que o presidente ambiciona apresentar em sua campanha de reeleição.
Neste mês que ficará marcado pelo clima de quinta série entre os próceres da República, brasileiros mais informados ficaram sabendo que o governo Bolsonaro tem de pagar R$ 643 bilhões em dívidas entre janeiro e abril. Os números da dívida pública brasileira são gigantescos, mas esse valor valor corresponde a mais do que o dobro da média dos últimos cinco anos.
Isso ocorreu porque o Tesouro Nacional teve de encurtar o prazo dos títulos para encontrar investidores que aceitassem correr o risco Brasil nestes dias de pandemônio na pandemia. É por isso que, no mercado, se fundem o temor da segunda onda e a desconfiança com a sustentabilidade das contas públicas. Os palavrões e epítetos desrespeitosos, desmentidos ou não, podem canalizar a frustração, mas não resolvem problemas objetivos. Para isso, seria melhor usar palavras mais civilizadas e cálculos mais racionais.