Foi um susto nos mercados, na sexta-feira, o diagnóstico de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está com covid-19. Para a economia, a situação aciona o multiplicador de incertezas, desde como o governo americano vai se comportar a partir de agora até o resultado da eleição para a Presidências dos EUA.
Está em dúvida a realização de novos debates e outros atos de campanha nas próximas duas semanas, metade do tempo que falta para o dia marcado para votação. Considerando os resultados do primeiro embate com Joe Biden, pode até beneficiar Trump. Apesar do desastrado bate-boca, pesquisas mostraram leve vantagem para o democrata. Se antes já era difícil de prever o resultado, agora se tornou quase impossível.
Esse aumento de incerteza costuma levar à aversão ao risco, ou seja, os investidores se refugiram em mercados mais seguros. Países com economia fragilizada, como Brasil, tendem a ser mais afetados. E o fato inesperado colhe o país em um momento difícil, com endividamento crescente e dúvidas sobre o compromisso do governo Bolsonaro com o ajuste fiscal.
Assim com as asiáticas e europeias, no Brasil a bolsa caiu 1,53% nesta sexta-feira (2), enquanto o dólar fechou quase estável (+0,22%%), alcançando R$ 5,666, cotação mais alta desde 20 de maio. Isso ocorreu um dia depois que o Bolsonaro afirmou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem 99,9% de sua confiança. O que tornou a declaração necessária foi o desgaste de Guedes na discussão sobre o financiamento de um programa social mais robusto do que o Bolsa Família.
Nesta sexta-feira (2), azedou ainda mais o clima entre Guedes e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. Em reunião com empresários, Marinho disse que o colega havia perdido a confiança do relator do orçamento no Congresso, Márcio Bittar (MDB-AC), por ter revisto sua posição sobre os precatórios. Ao saber, Guedes afirmou que não devia ser verdade, porque, se fosse, Marinho seria "despreparado, desleal e fura-teto". É uma declaração mais adequada ao Big Brother Brasil (BBB) do que à Esplanada dos Ministérios. Não combina com o defensor do DDD (desvincular, desobrigar, desindexar).
A piora na situação global em momento de forte desconfiança interna fez o economista-chefe da corretora Necton, André Perfeito revisar sua projeção para o dólar no final de ano de R$ 5,90 para R$ 6. Perfeito costuma ser cauteloso. Quanto se falava em queda de PIB de até 10%, preferiu não fazer projeções até que o cenário se delineasse com mais clareza.