Até na longa série de eventos e declarações inacreditáveis deste 2020, foi forte a frase do ministro da Economia, Paulo Guedes, ao voltar a defender, sua "não CPMF":
– Temos de desonerar o custo do trabalho. Enquanto as pessoas não vierem com uma solução melhor, eu prefiro esse imposto de merda.
A frase não foi dita em momento de irritação, mas em evento da XP Investimentos, já na noite de sexta-feira (16), com integrantes do mercado financeiro. Ou seja, deu tempo de escolher as palavras. Na véspera, havia feito outra declaração surpreendente: ao dizer que o novo imposto "só entraria para desonerar", acrescentou que "talvez nem precise, talvez eu desista". Um autodesmentido em tempo recorde e uma expressão de, digamos, mau gosto em uma só frase não é bom sinal vindo de um país em descrédito.
A série de motivos é longa, como a coluna já listou: redução do juro, estratégia de "juro baixo e dólar alto", negativismo na pandemia e sobre risco ambiental, além de flerte com a irresponsabilidade fiscal. Provoca não só a fuga de dólares. Há semanas, desperta a desconfiança dos investidores nacionais. A inação pública vem gerando diferentes iniciativas privadas para solucionar problemas públicos, da preservação da Amazônia à fonte de financiamento do Renda Cidadã.
Ao que se sabe, cabe à equipe econômica propor a melhor solução para equilibrar receitas e despesas. Não é fácil, porque a situação do Brasil, que já não era boa, piorou com a necessidade de gastar mais para amenizar o impacto do coronavírus. Não foi capricho nem irresponsabilidade, mas imposição. A construção de uma saída precisa de consistência e debate público responsável sobre alternativas.
O argumento de Guedes é de que o imposto de má qualidade (digamos assim) que propõe é preferível à forma atual de financiar o INSS, a cobrança de 20% sobre a folha de pagamento das empresas. Se o ministro contribuísse para fazer o que todos esperam da reforma tributária, simplificação com consequente redução de custo da cobrança, agradaria até a quem, em tese, sua "não-CPMF" deveria satisfazer, os empresários. Em sua maioria, esses já sabem há tempo que a CPMF ou algo parecido são tributos... ruins.