Se um roteirista apresentasse um retrato descrito do Brasil como ideia para uma produção de cinema acharíamos impossível fantasiar tamanha loucura. Em que país civilizado o ministro do Meio Ambiente, em meio a incêndios florestais de repercussão internacional, usaria as redes sociais para chamar um colega de Esplanada de "Maria Fofoca"? Ou para atacar o presidente da Câmara com a alcunha de um personagem do seriado Chaves? Só em filme, diríamos. E de extremo mau gosto.
A realidade, contudo, superou a ficção no governo de Jair Bolsonaro.
Sobra tempo e falta noção ao ministro Ricardo Salles, que de longe deveria estar preocupado com picuinhas que nos fazem lembrar a 5ª série da escola. No episódio mais recente, ele respondeu a Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, com a palavra "Nhonho". Horas depois, informou que sua conta havia sido hackeada e seu perfil desapareceu da rede Twitter. Tão difícil quanto engolir essa versão é aceitar, com tranquilidade, o desmonte da proteção ambiental no país.
Como revelou a Folha de São Paulo, os incêndios que devastam o Pantanal já destruíram um quarto do bioma dede o início deste ano. Os dados mostram que, em 2020, "as queimadas varreram a fauna e a flora de 3.977.000 hectares" (área pouco menor à do estado do Rio de Janeiro). Para se ter uma ideia, o espaço destruído corresponde a 26,5% do Pantanal, de 15 milhões de hectares.
Se parasse por aí já seria desesperador. Mas infelizmente não. Dados divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apontam que, em setembro deste ano, houve aumento significativo de focos de calor em comparação com o mesmo período do ano passado. No Pantanal, o aumento foi de 180,7%. Já na Amazônia, o crescimento chegou a 60,6%.
E o ministro está preocupado com Nhonho? Com Maria Fofoca? Tenha santa paciência.
Enquanto isso, o desemprego diante da pandemia bate recorde no Brasil; o país encerrou o mês de setembro com a assustadora marca de 13,5 milhões de desempregados.
É triste que ainda tenhamos que perder tempo com posturas infantis, irresponsáveis e desrespeitosas daqueles que foram escolhidos, democraticamente, para chefiar a nação. O descaso de autoridades e suas posturas agressivas têm custado vidas ao Brasil, que já ultrapassou as 150 mil mortes por coronavírus desde o início da pandemia. Como se não bastasse a disseminação da doença, o Brasil enfrenta outro vírus letal: a ignorância chegou ao Poder.