Sem desfile cívico-militar em Brasília e em grande parte do Brasil, o Dia da Independência terá menos cores da bandeira nacional nas ruas.
Mas a dupla cromática nunca esteve tão presente em programas oficiais, do já anunciado Casa Verde e Amarela ao candidato a ressurreição Carteira de Trabalho Verde e marela.
No primeiro caso, foi uma mudança na fachada, com barulho e poucas definições. O anúncio da volta da carteira com menos direitos estava previsto no "big bang" do ministro da Economia, Paulo Guedes, e foi "suspenso" pelo presidente Jair Bolsonaro. Patrioticamente, porque estava em frasco de veneno eleitoral.
E embora não tenha as cores no nome, outro plano com inspiração na pátria tenta abrir caminho no deserto de verbas públicas, o Pró-Brasil. A disputa por dinheiro para obras divididas em dois eixos, Ordem e Progresso, desordena relações entre ministros e atrasa agendas entre poderes.
Diante de uma situação pouco provável e ainda menos confortável – o aumento de preços da cesta básica em período de recessão –, Bolsonaro voltou a chamar o patriotismo às falas, na sexta-feira (4):
– Estou pedindo um sacrifício, patriotismo, para os grandes donos de supermercados, para manter na menor margem de lucro.
Produtos como arroz, farinha de trigo, açúcar, carnes e óleo de soja acumulam alta de quase 30% em 12 meses até agosto, conforme a Fundação Getulio Vargas. São resultado do aumento de exportações e também da alta de consumo proporcionada pelo auxílio emergencial. Se mais brasileiros puderem comer, parece, só o orgulho nacional salva.
Há cerca de 20 dias, Bolsonaro havia pedido "patriotismo" ao mercado financeiro caso o teto de gastos fosse furado. O orgulho da pátria é, sim, um sentimento nobre, que deve ser cultivado, até em nome da autoestima nacional. Mas quando é acionado por interesses miúdos, acaba virando uma cópia barata e contraproducente, a patriotada.