O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
A destruição de vagas de trabalho é uma das principais feridas abertas pela crise do coronavírus. A elevação no grupo de desempregados, contudo, aparece aos poucos nas estatísticas do IBGE. Ou seja, os dados oficiais ainda não refletem todos os efeitos indigestos da pandemia. Isso pode ser explicado pelo conceito que caracteriza uma pessoa desempregada.
Para o IBGE, um profissional está desocupado quando perde o trabalho, com ou sem carteira assinada, e passa a procurar nova oportunidade. Se ele ficou sem ocupação, mas não seguiu buscando outra vaga, não entra para o grupo de desempregados.
O nível de desocupação é medido de maneira oficial pela Pnad Contínua, com recorte trimestral. A edição mais recente foi divulgada pelo IBGE no início de agosto. Segundo o levantamento, o país tinha 12,8 milhões de desempregados no trimestre até junho. Apesar da crise, o número indica estabilidade frente ao período anterior.
A questão é que, no mesmo intervalo, houve o fechamento recorde de 8,9 milhões de postos de trabalho. É esse grupo que tende a reunir casos de quem perdeu o emprego durante a crise, mas não foi atrás de nova vaga. Assim, espera-se que o contingente de desocupados aumente com a flexibilização de medidas de isolamento no país. O nível de alta ainda é uma incógnita.
Na sexta-feira (14), o IBGE também apresentou os dados da Pnad Covid-19, pesquisa lançada para analisar a crise tanto na economia quanto na saúde. O estudo não pode ser comparado ao levantamento trimestral, em razão de diferenças metodológicas. Mas, como contempla dados semanais, já consegue capturar mais os efeitos no emprego.
Conforme o estudo, o país tinha 12,9 milhões de desempregados na semana até 25 de julho. Isso quer dizer que 3,1 milhões teriam entrado para o grupo desde o início de maio (9,8 milhões).
Economistas dizem que, mesmo com eventual reação de negócios em nível mais rápido do que o esperado, o cenário é de incertezas. Em crises, o emprego é uma das últimas variáveis a retomar.