Na seção Negócios de Futuro, a coluna costuma mostrar iniciativas e soluções de empresas nascentes ou em desenvolvimento. Nesta, porém, vai detalhar como uma companhia de 70 anos e faturamento de R$ 4,3 bilhões em 2019 "pivotou" (deu reviravolta na atividade, em startapês) e acabou montando, em três meses, um ônibus para enfrentar a pandemia de covid-19.
Esse veículo-conceito foi montado para mostrar as três soluções de biossegurança criadas entre abril e maio: um sistema que usa névoa seca para desinfecção do interior dos veículos, cabine de proteção para motoristas e cobradores e uso de luz ultravioleta para descontaminação de sanitários. E mais uma está pronta para ser apresentada.
Embora o veículo chamado Marcopolo BioSafe seja mais uma plataforma de demonstração do que um novo modelo de ônibus, todas as inovações já estão disponíveis para os clientes. Segundo Rodrigo Pikussa, diretor do Negócio Ônibus da Marcopolo, 48 horas depois que a empresa apresentou as soluções em conjunto, 140 veículos da carteira tiveram suas especificações alteradas para incluir um ou mais itens, tanto no mercado interno quanto no Exterior.
– Houve até pedidos de inclusão em veículos já vendidos. Agora, vamos ter um sistema de ar condicionado com desinfecção por ultravioleta que deixa o ar mais limpo do que quando entrou – detalha Pikussa.
A história da tecnologia de névoa seca é emblemática. Antes, a alternativa de limpeza era a pulverização, que deixava as poltronas molhadas, ou a limpeza manual, sujeita a erro humano. A solução veio de uma startup brasileira com um sócio espanhol, que havia desenvolvido a solução para a indústria de alimentos. Durante a pandemia, teve de adaptar para descontaminar um hotel que havia abrigado pessoas com covid-19 retiradas de um navio de cruzeiro.
– A névoa preenche o ônibus inteirinho e se deposita nas superfícies, criando um nanofilme com efeito residual desinfetante. É a única tecnologia que garante que 100% da superfície foi sanitizada, à prova de erro humano – descreve Pikussa.
Como as inovações são vendidas em kits, acabaram trazendo novos clientes, como clínicas médicas e hotéis. Segundo o executivo, a área de crédito teve de aprender a analisar clínicas de radiologia, por exemplo.
– Sem querer, acabamos ganhando diversificação, o que não tínhamos previsto. Nossa preocupação, em primeiro lugar, é como retomar a mobilidade com segurança.
A Marcopolo tem área de inovação há muito tempo, mas havia decidido acelerar no ano passado, depois de uma visita do consultor de liderança e tendências Ram Charan. Criou as divisões Next e Venture, inclusive para se aproximar de startups.
– Aí, veio a pandemia. E para ser bem sincero, a biossegurança não estava entre as áreas que íamos focar – lembra Pikussa.
A solução foi pivotar.