Até o recente ataque do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ) à China, o país asiático procurava resolver o ruído diplomático em gabinetes. As declarações do filho do presidente mudaram o formato de reação. No caso de Eduardo, houve uma nota dura da Embaixada da China no Brasil, em linguagem pouco usual na diplomacia: "Estamos extremamente chocados por tal provocação flagrante contra o governo e povo chinês. Manifestamos nossa profunda indignação e forte protesto pela atitude irresponsável do deputado Eduardo Bolsonaro."
Agora, um novo episódio, agora envolvendo não mais um parlamentar, ainda que filho do presidente da República, mas de um ministro do governo, voltou a fazer a China subir o tom. Além de um post infantil em rede social, o ministro da Educação, Abraham Weintraub afirmou, em uma transmisão em vídeo em rede social com o mesmo Eduardo, que considera alta a probabilidade de uma nova epidemia surgir na China, nos próximos 10 anos, porque os chineses comem "tudo o que o sol ilumina" e não são como os brasileiros, que "criam porco no chiqueiro".
No domingo (5) à noite, a Embaixada da China no Brasil foi obrigada a emtir nova nota. Desta vez, considerou "absurdas e desprezíveis" as declarações de Weintraub. relacionando a China ao surgimento de epidemias. Mais, deixou evidente que a escalada dos ataques pode causar prejuízos às relações dos dois países. Considerou que as declarações têm "cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais" (destaque da coluna).
É quase desnecessário lembrar que se trata do maior parceiro comercial do Brasil. Enquanto o ministro da Educação comete atos de antidiplomacia, autoridades da saúde se esforçam para garantir que compras feitas na China de material de proteção a profissionais da saúde cheguem ao Brasil. Como se sabe, toda a atividade produtiva chinesa é alcançada pelo longo braço do Estado. Sua representação diplomática está vendo "influências negativas" nas relações bilaterais. As consequências, desta vez, já extrapolaram os gabinetes. Podem custar caro aos brasileiros.