Quando parecia que o mundo ia acabar no mercado financeiro, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) anunciou que vai oferecer US$ 1,5 trilhão – sim, o tamanho da cifra é este, que só costuma ser visto em PIB de países – para evitar "disrupções inusuais". Foi o que salvou a bolsa de valores no Brasil de interromper os negócios pela terceira vez no dia. Seu principal indicador, o Ibovespa, voltava da segunda pausa no dia, de uma hora, e afundava 19% quando chegou o anúncio salvador do Fed.
Foi tarde para as bolsas europeias: Milão despencou 16,98%, Paris mergulhou 12,28%, Frankfurt tombou 12,24% e Londres caiu 10,87%. São perdas históricas em pontos e em percentual. No Brasil, tirou o Ibovespa da beira do precipício, limitando o declínio, que havia passado de 19%, para 13% na metade da tarde. Mas em Nova York, só contribuiu para frear a queda livre por alguns momentos. Em seguida, o Dow Jones Industrial (DJI) voltou a aprofundar as perdas diante das dúvidas de investidores sobre se o valor trilionário seria suficiente para conter o pânico.
Se é fato que o mercado já estava em modo pânico desde a última segunda-feira (9), acionado pela Arábia Saudita, é certo que o presidente dos EUA, Donald Trump, deu uma contribuição decisiva para piorar drasticamente a situação. Ao anunciar que fecharia o país para europeus, com exceção dos britânicos, deu ao já estressado setor financeiro um motivo a mais para especular sobre qual, afinal, é o risco econômico embutido na pandemia de coronavírus. Tamanho desastre vai custar mais de US$ 1,5 trilhão só para o Fed, já que o mercado não está convencido de que a quantia é suficiente. Mas também vai custar outros trilhões de outros países, inclusive do Brasil.
Em nota, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, lamentaram o fato de a decisão ter sido tomada unilateralmente, sem consulta prévia. Dacin Cilos, integrante do Parlamento Europeu, onde representa a Romênia, acusou Trump de usar a Europa como "bode expiatório". O presidente americano contratou uma crise com dimensão suficiente para ser comparada à de 2008. Ainda é tempo de encurtá-la, mas só se os líderes globais aprenderem com seus erros. Ao menos, para não cometê-los novamente.