A dois dias da confirmação oficial do resultado do (baixo) crescimento de 2019 – o IBGE vai comunicar o resultado na próxima quarta-feira (4) –, as redes sociais seguem contagiadas pelo vírus da polarização. A recente alta do dólar, contida por bilhões ofertados pelo Banco Central, é debitada na conta da gestão interna da economia, logo do presidente Jair Bolsonaro. "Dólar a R$ 5 e a culpa é do coronavírus? Ah, tá?" é uma formulação que, com variações, surge aqui e ali.
O dólar está R$ 4,48, na metade da tarde desta segunda-feira (2) por força dos temores despertados pelo vírus identificado pela primeira vez na China. Assim como a queda profunda nas bolsas globais da semana passada, só amenizada com a confirmação de que os ministros de finanças do G7 se reunirão na terça-feira (7) para definir "ações combinadas" que freiem o princípio de crise global desenhada no mercado financeiro internacional. A informação fez as bolsas de Nova York e de São Paulo engatarem altas superiores a 2,5%.
O Brasil já não vinha em velocidade de cruzeiro quando foi atropelado pelo coronavírus. Os sinais de que o último trimestre de 2019 não foi o que se esperava começaram a provocar reduções das projeções de alta no PIB, tanto do ano passado quanto neste ano, antes que o mundo tremesse com o contágio do vírus na economia. O dólar, por sua vez, já vinha embalado com o combustível da saliva ministerial, tantas foram as vezes que Paulo Guedes defendeu "juro mais baixo e dólar mais alto".
Um dado divulgado nesta segunda-feira (2) pela Serasa Experian mostra que a reação já estava comprometida antes do coronavírus (veja gráfico). No ano passado, o número de empresas que não conseguem pagar suas contas em dia foi o maior desde o início da série histórica, em março de 2016. Em dezembro, muito antes que se ouvisse a palavra "contágio" no Brasil, subiu 9,5% em relação ao mesmo período de 2018 e de 1,6% na comparação com o mês anterior.
Então, é preciso separar a conta de Bolsonaro, que vai até meados de janeiro, e a do coronavírus, que começa logo em seguida. Agora, o Brasil está na mão do G7. E o país já sabe que transformar tsunami em marolinha não evita perdas, só as transfere no tempo.