Nas bolsas de valores, a semana do Carnaval terminou confirmando a caracterização de pior período desde a crise global de 2008. A bolsa de Nova York, referência global, despencou 12% de segunda a sexta. As de Alemanha, França, Itália e Reino Unido tiveram perdas equivalentes. No Brasil, a baixa acumulada passou pouco de 10%, e nesta sexta-feira (28), se descolou do Exterior. Depois de operar em queda durante quase toda a a sessão, virou para o positivo e encerrou com ligeira alta de 1,15%.
No último dia útil de fevereiro, o Banco Central (BC) reforçou a artilharia para conter a desvalorização do real. Conseguiu manter a cotação abaixo de R$ 4,50. Com oscilação de apenas 0,13%, a moeda americana fechou em R$ 4,481. Além de novos contratos que protegem da variação cambial (swap cambial), o BC ofereceu US$ 3 bilhões em leilões de linha, ou seja, dólares físicos com compromisso de recompra.
O fato de ter sido a pior semana nas bolsas desde 2008 não quer dizer que o mundo está diante de outro período de crise de dimensão semelhante, pondera Roberto Padovani, economista-chefe do BV (novo nome do Banco Votorantim):
– A intensidade do movimento de mercado diz pouco sobre a natureza da crise, que agora é passageira.
Quando a coluna fez a pergunta que todos têm – "quando vai passar?" – Padovani afirmou que o mercado vai ficar sensível no curto prazo, até perceber que o risco de contágio passou. Os analistas ponderam, ainda, que o coronavírus provocou a correção que há muito tempo vinha sendo anunciada na euforia dominante nos Estados Unidos nos cinco últimos anos. Enquanto o Brasil sofria com a recessão e a dificuldade de retomada, a bolsa americana emplacava recordes sucessivos.
Como a referência do Ibovespa sempre foi a bolsa de Nova York, chamou atenção a diferença no comportamento dos indicadores nesta sexta-feira (28). Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, não há respostas precisas, mas uma pista pode ser o fato de que os investidores internacionais, em boa medida, já tiraram muito dinheiro do Brasil.
– São os que geram muita volatilidade quando se fala em crise global. Há mais pessoas físicas brasileiras investindo na bolsa, isso acaba amenizando um pouco o sobe e desce aqui – arrisca.
Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, ressalva que, se nas bolsas o comportamento de hoje foi mais suave, o real é a moeda que mais se depreciou em 2020. Além disso, acrescenta, as revisões para a economia real devem se estender por semanas. Apesar do forte solavanco provocado pelo coronavírus, Agostini tenta dar um alento:
– Se sobrevivemos a 2015/2016, vamos sobreviver também ao coronavírus.