Ao dar a largada para a venda da Gaspetro, no final da tarde de quinta-feira (27), a Petrobras criou uma situação inusitada. Pertence a essa subsidiária 49% do capital da Sulgás, estatal que o governo do Rio Grande do Sul pretende privatizar neste ano. Diante dos sinais de que isso ocorreria, houve uma tentativa de negociar a venda conjunta da Sulgás, mas conforme o secretário de Meio Ambiente e Infraestrutura, Artur Lemos, a Petrobras optou por sair do negócio antes. A decisão cria uma situação curiosa: quando o controle da Sulgás for ofertado, é possível que a distribuidora já tenha uma sócia privada.
Na avaliação da advogada Lívia Amorim, do escritório Souto Correa, a Sulgás tem potencial de atrair investidores relevantes. Além de administrar o trecho final do gasoduto Brasil-Bolívia, tem oportunidades de expansão a partir do gasoduto que leva gás da Argentina até Uruguaiana.
– Essa proximidade com a Argentina faz com que o futuro controlador possa ter outras possibilidades de suprimento, como trazer gás da Argentina ou até gás liquefeito. em futuro mais de médio prazo – diz Lívia.
Os preços do gás natural liquefeito (GNL), que já vinham em queda com o grande volume de produção americana, também originada em xisto, declinaram ainda mais com o coronavírus, seguindo a queda na cotação do petróleo.
A advogada explica que o escritório chegou a disputar a possibilidade de ser um dos contratados pelo BNDES para assessorar a venda, mas o preço baixo e a grande burocracia afastaram a hipótese. Agora, segue acompanhando o processo para poder assessorar potenciais compradores, mas ainda não tem mandato.
No ano passado, a Argentina fez a primeira exportação de combustível de Vaca Muerta, considerada uma das maiores reservas de gás de xisto no mundo. A expectativa é de que o país possa alcançar produção de gás de 260 milhões de metros cúbicos ao dia. Para dar uma ideia, a Bolívia, principal fornecedora do Brasil hoje, produz ao redor de 45 milhões de metros cúbicos ao dia. Essa oportunidade deve entrar na mira dos interessados na Sulgás. A reserva fica a 80 quilômetros de Neuquén, em meio a uma área deserta da Patagônia argentina, perto da fronteira com o Chile.