A Quarta-feira de Cinzas teve tom de ressaca porque o mercado financeiro ficou parado no Brasil durante dois dias de quase pânico nas principais bolsas internacionais. A bolsa despencou 7%, o Banco Central conseguiu conter a alta do dólar a "meros" 1,16%, mas o problema que gerou essa reação mais intensa, porque atrasada, não desapareceu do cenário. Ao contrário, depois de um dia de relativa calma, na véspera, nesta quinta-feira (27) as bolsas europeias voltaram a operar em clima de risco de crise global, com quedas superiores a 3% em praças maduras, como Alemanha, França, Itália e Reino Unido, onde tombos dessa magnitude são raros.
Nesta manhã, o dólar atingiu a cotação de R$ 4,50, e a bolsa afunda mais 2%, diante da falta de perspectivas de controle rápido da disseminação da doença e, portanto, de manutenção dos desequilíbrios na produção global, que nunca foi tão interligada, nem tão dependente da China. O temor de quebra na cadeia de suprimentos não se desfez, ao contrário, tem se intensificado.
Na noite de quarta-feira (26), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, admitiu que o avanço do coronavírus "poderia impactar" o PIB americano. Em campanha à reeleição, não perdeu oportunidade para atribuir aos adversários democratas parte da culpa pela turbulência, mas ponderou que o efeito do surto "não pode ser realmente determinado". Mencionou até que os EUA têm planos de quarentena em larga escala, se preciso.
Ainda é possível que sinais de controle da disseminação do vírus ou descobertas relacionadas ao tratamento ou prevenção da doença que causa abreviem a turbulência, mas diante dos sinais externos, o comportamento do mercado financeiro brasileiro é até relativamente benigno.
A bolsa de Nova York, principal referência da B3 nacional, cai 2% nesta manhã de quinta-feira (27). Em dias "normais", um declínio desse tamanho do indicador mais tradicional dos EUA, o Dow Jones Industrial, provocaria estrago maior por aqui. Em baixa nos últimos cinco dias úteis consecutivos, acumula perda de 10%. Como em todos os episódios de forte turbulência, não há outro remédio: apertar o cinco e administrar o período com cautela.