No dia em que o Brasil confirmou seu primeiro caso de coronavírus, a bolsa de valores brasileira, a B3, despencou. Na retomada do pregão após a pausa de dois dias por conta do carnaval, o Ibovespa, principal índice do mercado acionário do país, caiu 7%. Paralelamente, o dólar comercial subiu 1,16% e fechou a R$ 4,44. Com isso, renovou o patamar da maior cotação nominal desde a implementação do Plano Real, em 1994.
O tombo da bolsa brasileira é o maior desde 17 de maio de 2017, quando o Ibovespa recuou 8,8% a partir do vazamento de áudios da delação premiada do dono da JBS Joesley Batista, envolvendo o então presidente Michel Temer. A queda desta quarta-feira é interpretada pelo mercado principalmente como um ajuste ao movimento internacional verificado desde segunda-feira, quando as bolsas da Ásia, da Europa e dos Estados Unidos passaram a acumular resultados negativos com receio do avanço da epidemia de coronavírus fora da China.
— Os preços na bolsa brasileira foram ao encontro do que estava acontecendo lá fora. Se tirou o atraso dos últimos dois dias, quando estávamos no Carnaval — explica o analista Valter Bianchi Filho, sócio da Fundamenta Investimentos.
Nesta quarta, as bolsas europeias começaram a reagir após dois dias consecutivos de quedas. Fecharam em alta Milão (1,44%), Londres (0,35%) e Paris (0,09%). Por outro lado, Frankfurt teve queda de 0,12%. Já nos Estados Unidos, a bolsa de Nova York terminou o dia com 0,46% de recuo.
No Brasil, os papéis das companhias aéreas Gol e Azul tiveram as desvalorizações mais expressivas, 14,31% e 13,3% respectivamente. Além disso, as ações de empresas dos setores de petróleo, siderurgia e mineração também foram bastante afetadas. O economista e professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais em São Paulo (IBMEC-SP) Alexandre Cabral destaca que esse movimento sinaliza que o turismo e os negócios envolvendo commodities tendem a ser atividades diretamente afetadas pela epidemia.
O cenário adverso acaba pressionando o câmbio. Por isso, no início do pregão, às 13h, o Banco Central realizou um leilão extraordinário de 10 mil contratos de swap cambial, tentando conter a alta do dólar. Nesta quinta-feira, a autoridade monetária irá novamente atuar no mercado, leiloando 20 mil contratos.
— O leilão ajudou a segurar um pouco a alta, só que essa onda mundial está levando o dólar. Não há muito o que o BC possa fazer, com o mundo ruim — diz Cabral, projetando que a escalada do dólar pode continuar nos próximos dias.
Projeções
Economista e professor da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul (Unijuí), Argemiro Brum ressalta que a desaceleração da atividade econômica na China, na esteira do coronavírus, pode influenciar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2020. Os chineses são os principais parceiros comerciais do país, sendo grandes fornecedores de insumos para indústria e compradores de soja e minério de ferro.
— Com o problema se prolongando mundo afora e agora no Brasil, podemos ter uma freada na produção e, por consequência, no crescimento econômico e na geração de empregos — salienta.
A mais recente edição do relatório Focus, do Banco Central, divulgada nesta quarta, baixou pela segunda semana consecutiva a projeção de crescimento da economia brasileira: de 2,23% para 2,20% ao ano.
Além disso, Brum lembra que a valorização do dólar afeta a inflação no Brasil. Neste sentido, o economista diz que, conforme haja reação na demanda interna, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central poderá voltar a subir o juro básico, hoje em 4,25% ao ano, para conter a alta nos preços.