Durante a viagem à Arábia Saudita, o Brasil foi convidado a se tornar integrante da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Na quinta-feira (31), o presidente Jair Bolsonaro apenas relatou a oferta, mas nesta sexta-feira (1º), ao sair do Palácio da Alvorada, voltou a insistir no assunto e mostrou que o debate, aberto pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2007, está de volta ao Brasil de 2019.
– Tive um convite, por parte de país lá do Oriente Médio, para nós entrarmos na Opep. Conversei rapidamente com o ministro das Minas e Energia (almirante Bento Albuquerque). Ele falou: presidente, tem prós e contras; não podemos decidir de uma hora para a outra – afirmou Bolsonaro nesta sexta-feira (1º).
Depois de cerimônia de assinatura do aditivo ao contrato da cessão onerosa, que dará a Petrobras cerca de R$ 33 bilhões dos R$ 106 bilhões que devem resultar do megaleilão da próxima quarta-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a orientação econômica do Brasil é contra cartéis como a Opep:
– As nossas concepções, como parte das democracias liberais ocidentais, jamais seriam de usar cartéis, fortalecer cartéis para encurralar democracias que giram em cima de óleo. Nosso espírito não é esse.
Uma das projeções da cerimônia é de que o Brasil pode subir da 10ª para a quinta posição entre os maiores produtores mundiais de petróleo. O volume de recursos previsto para o megaleilão de quarta-feira é um dos motivos pelos quais o pré-sal voltou a atiçar o imaginário, não só do governo federal, mas também dos Estados e municípios que esperam receber não só parte dos recursos que entrarão no caixa até junho de 2020, mas nos próximos 35 anos. O leilão é considerado a maior oferta de reservas de petróleo já feita no mundo, o que provocou uma espécie de "redescoberta" do pré-sal.
O cartel reúne principalmente países árabes, mas sul-americanos como Venezuela e Equador também foram admitidos como sócios. No entanto, o Equador já anunciou sua desistência do grupo, porque, como qualquer clube, participar da Opep tem um custo. No caso do Equador, que produz apenas 320 mil barris ao dia, era de US$ 2 milhões ao ano. O Brasil extrai atualmente 3,7 milhões diários, mais de 10 vezes o volume equatoriano.
Além disso, ao integrar o cartel, será preciso concordar e implantar cortes de produção decididos pelo grupo. Isso significa que o Brasil perderia a autonomia de decidir quanto vai produzir em determinado período. Se o ex-presidente Lula cogitou entrar na Opep em plena euforia com a descoberta do potencial do pré-sal, ainda acreditando que seria um "bilhete premiado", o governo atual já deveria ter compreendido tanto a promessa quanto as limitações da riqueza que vem do petróleo, e as da própria Opep. É preciso pesar muito bem os prós e os contras.