À medida que se acumulam dúvidas sobre o futuro do governo da Bolívia, outras incertezas vão surgindo. Na segunda-feira (11), a insegurança sobre a sucessão do já ex-presidente Evo Morales ecoou no mercado financeiro. A situação boliviana foi uma das causas da baixa de 1,5% na bolsa de valores brasileira. Analistas também mencionaram o Chile como fonte de inquietação, mas o Brasil é muito mais dependente da economia menos diversificada do vizinho do que da exportadora do país com o qual não faz fronteira.
Ainda vem da Bolívia a maior quantidade de gás natural consumido no Brasil, apesar das descobertas no pré-sal, que além de muito petróleo, tem enormes reservas de gás. Depois das concessões feitas no governo Lula para as demandas de Evo Morales, o governo federal se preparava para renegociar o contrato com a Bolívia, que vence no final deste ano. O potencial do pré-sal seria usado como argumento para resistir às tentativas do país andino de valorizar ainda mais seu suprimento, cujo preço encarece a produção de indústrias brasileiras.
Vêm da Bolívia cerca de 30 milhões de metros cúbicos de gás por dia para o Brasil, dos quais ao redor de 2 milhões chegam ao Rio Grande do Sul. Conforme afirmou ontem o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Décio Oddone, com a indefinição do novo governo boliviano foi preciso interromper as tratativas.
Diretor-executivo de Relacionamento Institucional da Petrobras, Roberto Ardenghy, ressalvou que o Brasil tem um estoque que garante no mínimo seis meses de abastecimento. Há poucos meses, o governo federal anunciou um plano para reduzir a dependência da Bolívia no suprimento do combustível. Nesse caso, a Petrobras era vista como "vilã", por ter priorizado excessivamente a retirada de óleo do pré-sal, deixando o gás em segundo plano ou até simplesmente reinjetando volumes nas rochas em que se encontra.
O Brasil ainda é visto como um país de costas para a América do Sul. Essa atitude, no entanto, não garante imunidade, nem a efeitos econômicos, nem aos sociais dos protestos em série.