Até agora, não houve acenos pró-mercado do presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández. Há expectativa de que Fernández seja mais moderado que foram os governos dos Kirchner, Néstor (já falecido) e Cristina, mas nas manifestações que se seguiram à admissão da derrota do atual presidente, Maurício Macri, ele preferiu o tom populista que marcou a campanha. A medida econômica que se seguiu ao resultado da eleição, a redução drástica do limite de compra mensal de dólares pelas vias oficiais, de US$ 10 mil para US$ 200, tem impacto tremendo no país do tango, onde qualquer transação de maior valor é feita com moeda americana.
No entanto, no Brasil o dólar recua em relação ao real
nesta segunda-feira (28), sendo negociado abaixo de R$ 4 no final da manhã. Até a bolsa ensaia um leve avanço.
Um dos motivos da reação relativamente tranquila,
diante dos temores do mercado financeiro com o futuro
da Argentina, terceiro maior comprador de produtos brasileiros, é a nova visão de investidores estrangeiros, que passaram a identificar as diferenças entre os dois maiores sócios do Mercosul. Nos últimos seis meses, quando a crise se agravou do lado de lá da fronteira, o risco da Argentina subiu 335,9%, medido por títulos chamados Credit Default Swaps (CDS), cuja finalidade é proteger o comprador de calotes de governos. O do Brasil caiu 31,8% no mesmo período. Isso significa que, enquanto o temor de que a Argentina não consiga pagar sua dívida explodiu, essa percepção diminuiu em relação ao Brasil.
O que vai consolidar – ou não – a percepção de que Fernández dará um perfil mais moderado a seu mandato é a escolha para o Ministério da Economia. Os mais cotados, na hipótese de uma escolha mais alinhada com o mercado, são Guillermo Nielsen, que atuou
na reestruturação da dívida no governo Kirchner e será um parceiro importante caso seja cumprida a promessa de interrromper o pagamento total dos débitos do governo, Martín Redrado, que presidiu o banco central argentino no governo Cristina Fernández de Kirchner, eleita vice-presidente, e Carlos Melconian, que presidiu o Banco Nación, que atua no varejo, como o Banco do Brasil aqui no governo Macri.
Como nas última semanas Fernández falou muito com economistas e sobre temas econômicos, a expectativa é de que esse anúncio ocorra rapidamente, até para reduzir a pressão sobre o dólar na Argentina, que subiu quase 50% em pouco mais de 45 dias, desde que ficou caracterizada a possibilidade de vitória dos Fernández nas eleições prévias, as chamadas "Paso". Nesse cenário, o governo brasileiro precisa fazer sua parte para não subir o volume do tango. Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro ameaçou tirar o Brasil do Mercosul, espalhando preocupações sobre as consequências. Nesta segunda-feira (28),
ao contrário do que fez Macri, que convidou Fernández para um café da manhã, afirmou que não pretende cumprimentar o presidente eleito pela vitória.