Diante da informação de que o governo federal já analisa efeitos de uma eventual saída do Mercosul, bloco formado ainda por Argentina, Paraguai e Uruguai, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) fez estudo sobre os impactos. Além da perda de 2,4 milhões de empregos e R$ 52 bilhões em massa salarial no Brasil, há uma análise detalhada das consequências nos Estados mais beneficiados pela integração sul-americana. O Rio Grande do Sul é apontado como o segundo que mais se beneficia da corrente de comércio no bloco, atrás apenas de São Paulo. Empresas gaúchas exportaram para o Mercosul US$ 2,4 bilhões em 2018, enquanto as de São Paulo venderam US$ 8,3 bilhões.
Sempre com base em dados do ano passado, a CNI projeta que, com o fim do Mercosul, o Rio Grande do Sul perderia 284 mil postos de trabalho e R$ 5,9 bilhões em massa salarial. Antes que alguém decida fazer uma conta de padeiro – como a coluna – e concluir que a divisão desses dois números resultaria em salário médio de R$ 20,8 mil, um alerta: entram nessa conta parte da remuneração da indústria, parte dos custos dos insumos e parte do pagamentos dos serviços da indústria.
A entidade empresarial destaca que o Mercosul é o quarto maior parceiro comercial
do Brasil (corrente de comércio, ou soma de compras e vendas) no mundo. É destino
de US$ 20,9 bilhões das exportações e origem de US$ 13,4 bilhões das importações brasileiras. Além de representar 8,7% das exportações totais do Brasil, o bloco formado
por Argentina, Paraguai e Uruguai (além do Brasil) absorve 25,6% dos produtos
de alta e média-alta intensidade tecnológica exportados pelo Brasil. Isso quer dizer que
as vendas para os sócios sul-americanos são de itens mais complexos, com maior emprego de mão de obra qualificada.
Além dos dados técnicos, a CNI deu contorno político ao estudo ao constatar que, dos 10 Estados que mais exportaram para o Mercosul em 2018, oito tiveram volume acima da média de votos em Jair Bolsonaro nas eleições de 2018. Esse grupo respondeu por 88,9%
do total exportado pelo Brasil ao Mercosul em 2018. Especialistas avaliam que a ameaça de abandono do bloco é uma bravata, até por comprometer uma das maiores conquistas do governo Bolsonaro, o acordo de livre-comércio com a União Europeia. Mas como algumas decisões do Planalto surpreendem, é bom ter os dados à mão.