Diversidade nas empresas não é apenas "bacana" (tradução livre da coluna para "a nice thing"),
é um imperativo de negócio capaz de melhorar o desempenho e até os resultados corporativos, sustenta Brian Reaves, principal executivo da unidade de Diversidade e Inclusão da Dell, uma das maiores fornecedores de equipamentos eletrônicos e de tecnologia do mundo. Criada por Michael Dell já com o conceito de receber todo tipo de pessoa, na última década sistematizou esse princípio, relatou à coluna. Reaves está na Dell há 18 meses, vindo de um longo trabalho na área feito em outra referência no assunto, a alemã SAP. Ele recebeu a coluna em Eldorado do Sul, onde a companhia mantém sua unidade local, e detalhou as vantagens competitivas da abertura das portas para pessoas de diferentes padrões.
Como começou a busca por diversidade na Dell?
O trabalho começou com Michael (Dell, fundador da empresa, na época com 19 anos), na criação da companhia. Sua primeira atitude, quando estava preparando o recrutamento, foi colocar no papel que daria boas-vindas
a todos os gêneros, raças, credos, cores, todos os tipos de pessoas. Agora, 35 anos depois, todos querem ser mais inclusivos, mas para Michael sempre foi importante que a empresa fosse o local onde as pessoas pudessem levar seu melhor "eu", qualquer que fosse. E estivesse apto a trabalhar com outras pessoas assim. Quando se tem um líder como Michael, tudo fica mais fácil. É muito importante o apoio de todos os níveis de liderança.
Agora se tornou mais importante?
Acredito que tenha se tornado mais importante para a maioria das companhias porque se tornou um imperativo para os negócios. Diversidade e inclusão elevam a inovação, a satisfação do consumidor, o engajamento e a retenção de empregados. Todas essas características ajudam a aumentar receita e lucro. Estatísticas indicam que, se a empresa apoia diversidade étnica e cultural, aumenta em 33% suas chances de desempenho superior ao de suas pares, se apoia igualdade de gênero, a possibilidade cresce 21%. Se não apoia, há 29% mais possibilidade de ter desempenho abaixo de seus pares (dados de relatório da consultoria McKinsey de 2018). São grandes vantagens competitivas. Empresas que entendem esses números reconhecem que diversidade não é só bacana, é um imperativo de negócios, que dá vantagem competitiva.
Adotamos um treinamento focado em assuntos como preconceitos inconscientes e privilégios. Somos a primeira empresa do mundo a rodar esse programa globalmente.
Como essa política se traduz na prática na Dell?
Temos 13 grupos de afinidade na empresa, que reúnem 37 mil dos 145 mil empregados, é uma forte característica da Dell. No Brasil, temos cinco desse grupos ativos: Women in Action (igualdade de gêneros), Pride (LGBT), True Ability (pessoas com deficiência), GenNext (geração Y), Conexus (inovação e compartilhamento) e Planet (ambiente e sustentabilidade). Também adotamos um treinamento, focado em assuntos como preconceitos inconscientes e privilégios. Somos a primeira empresa do mundo a rodar esse programa globalmente. No ano passado, todos os executivos passaram pelo treinamento, neste ano, todas as pessoas em nível de gerência, e até 2021, todos os empregados da Dell vão receber. Isso é importante, porque as pessoas têm diferentes definições sobre preconceito inconsciente, e com o treinamento, cria-se uma base comum.
Como você está há 18 meses na Dell, onde atuava antes?
A maior parte da minha carreira, mais de 30 anos, é engenheiro de computação, com formação em Matemática e Ciências da Computação. Cresci em South Central Los Angeles, onde muitas pessoas, infelizmente, vão parar na prisão, ou não conseguem completar 18 anos. Mas minha família ajudou, tive oportunidades, consegui ir para UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles). A maioria da minha carreira foi como engenheiro de software, mas a cada passo lembro de onde vim e quem sou. Condições socioeconômicas não definem quem você é, se você tem uma oportunidade. Então, atuar nessa área foi algo que sempre fiz de forma complementar. Há três anos, o CEO da SAP no Vale do Silício me perguntou 'ei, você é um ótimo engenheiro de software, mas não quer trabalhar em diversidade e inclusão, que é sua paixão?'. É uma oportunidade de mudar não apenas uma vida, mas gerações. Foi aí que entrei no radar da Dell.
Nos Estados Unidos, em 2024, haverá 1,1 milhão de empregos na área de computação. Pelas taxas atuais de graduação nos EUA, apenas 45% dessas vagas serão preenchidas.
Por que as empresas de tecnologia, já que a SAP é outra referência na área, são mais atentas à diversidade e inclusão?
Empresas pensam cada vez mais em não apenas o que fazem, mas o que são. E quando se inclui todos, há maior chance de ter sucesso nos negócios a longo prazo. E uma das razões pelas quais todos estão preocupados é o fato de que precisam de mais e mais pessoas para preencher vagas de trabalho disponíveis. Nos Estados Unidos, em 2024, haverá 1,1 milhão de empregos na área de computação. Pelas taxas atuais de graduação nos EUA, apenas 45% dessas vagas serão preenchidas. No mundo, serão 10,7 milhões de empregos disponíveis em tecnologia dentro de cinco anos, apenas nos segmentos financeiro e de serviços. Se não expandir seu universo de contratação, não terá sucesso em seus negócios. Certamente há pessoas suficientes no mundo para preencher todas essas vagas, mas é preciso dar oportunidades. Esses são nossos programas, vamos onde estiverem pessoas diferentes e capazes, para lhes dar oportunidades.
Não é apenas questão de justiça e equidade, é pelos negócios?
Sim, é pelos negócios. Muitas pessoas podem fazem coisas boas, mas nem todas, porque não veem valor. Eu e você nascemos diferentes, mas temos uma visão em comum. Mas algumas pessoas não veem, então é preciso dar outras razões. Todas as pessoas querem ter negócios e carreiras de sucesso, mas quando veem como resultados estão relacionados à inclusão, encontram formas de se engajar.
Nos Estados Unidos, em 2024, haverá 1,1 milhão de empregos na área de computação. Pelas taxas atuais de graduação nos EUA, apenas 45% dessas vagas serão preenchidas.
Por que as empresas de tecnologia, já que a SAP é outra referência na área, são mais atentas à diversidade e inclusão?
Empresas pensam cada vez mais em não apenas o que fazem, mas o que são. E quando se inclui todos, há maior chance de ter sucesso nos negócios a longo prazo. E uma das razões pelas quais todos estão preocupados é o fato de que precisam de mais e mais pessoas para preencher vagas de trabalho disponíveis. Nos Estados Unidos, em 2024, haverá 1,1 milhão de empregos na área de computação. Pelas taxas atuais de graduação nos EUA, apenas 45% dessas vagas serão preenchidas. No mundo, serão 10,7 milhões de empregos disponíveis em tecnologia dentro de cinco anos, apenas nos segmentos financeiro e de serviços. Se não expandir seu universo de contratação, não terá sucesso em seus negócios. Certamente há pessoas suficientes no mundo para preencher todas essas vagas, mas é preciso dar oportunidades. Esses são nossos programas, vamos onde estiverem pessoas diferentes e capazes, para lhes dar oportunidades.
Não é apenas questão de justiça e equidade, é pelos negócios?
Sim, é pelos negócios. Muitas pessoas podem fazem coisas boas, mas nem todas, porque não veem valor. Eu e você nascemos diferentes, mas temos uma visão em comum. Mas algumas pessoas não veem, então é preciso dar outras razões. Todas as pessoas querem ter negócios e carreiras de sucesso, mas quando veem como resultados estão relacionados à inclusão, encontram formas de se engajar.
Meu modelo mental é de que são necessárias pessoa boas para educar as que têm medo, ou não entendem, e que sempre há mais pessoas boas no mundo, positivas e inclusivas, do que negativas.
Como a empresa lida com realidades com a do Brasil, onde algumas pessoas se sentem à vontade para expressar preconceito?
Em primeiro lugar, costumamos dizer que a Dell tem seu próprio mundo. Criamos regras, e são inclusivas. Não importa como as pessoas possam se comportar lá fora, quando estão na Dell precisam aderir a padrões inclusivos. Lá fora, não sei, talvez seja a natureza humana. Meu modelo mental é de que são necessárias pessoa boas para educar as que têm medo, ou não entendem, e que sempre há mais pessoas boas no mundo, positivas e inclusivas, do que negativas. Não passo muito tempo ouvindo o negativo, prefiro educar.
Ações inclusivas de grandes companhias, como SAP e Dell, podem ajudar a romper barreiras?
Sim, é por isso que estamos falando mais sobre o assunto. As pessoas respeitam a marca, admiram seus líderes, como Michael Dell, e nos veem fazendo coisas positivas. Diversidade e inclusão é parte do que fazemos e do que somos. As pessoas compram nossos produtos porque usamos materiais de qualidade, cuidamos da sustentabilidade, da saúde. A missão da Dell Technologies, além de produzir computadores e acessórios, é conduzir o progresso humano. É importante que todas as empresas percebam que têm influência e contribuam de forma positiva. A Dell tem uma forte parceira com a Universidade de Ceará para desenvolver produtos para pessoas com deficiência. Temos um que permite leitura de textos para quem tem problemas de visão, outro que permite a pessoas surdas desenvolverem todo trabalho na produção de um PC e também que paraplégicos possam atuar na linha de montagem.