Ao revelar os dados sobre os quais anteriormente havia decretado um contraproducente sigilo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, apresentou um kinder ovo aos brasileiros:
em vez dos R$ 1,16 trilhão anunciados oficialmente, a economia com a reforma da Previdência em um prazo de 10 anos alcançará R$ 1,236 trilhão caso não seja alterada no Congresso. A surpresa teve imediata repercussão no mercado financeiro e ajudou a trazer
o dólar, que chegou a trafegar na órbita de R$ 4 no início da manhã, de volta a R$ 3,96.
Agora, será preciso esperar a explicação de Guedes: foi distração – hipótese difícil de sustentar em uma equipe formada por muitos técnicos – ou tentativa de fazer com que a esperada desidratação da proposta fizesse menos estrago na redução de gastos prevista com a Nova Previdência? Caso o segundo caso se confirme, pode render debates ainda mais acalorados na Câmara dos Deputados.
Recheada de bodes e jabutis, a PEC 06/2019
já tem duas baixas certas na Comissão Especial da Câmara, como afirmou o presidente da casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ): as mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e na aposentadoria rural não vão passar, advertiu Maia. Maia também avisou que capitalização pura, como já tentou defender Paulo Guedes, não tem chance de aprovação no Congresso.
O presidente da Câmara abriu a possibilidade de um sistema híbrido – semelhante ao nocional que também já foi cogitado pelo ministro da Economia –, ou um formato que deixe no regime atual os "mais pobres". Esse é semelhante ao proposto, durante a campanha eleitoral, pelo conselheiro econômico de Ciro Gomes (PDT), Mauro Benevides, que previa redução do teto de pagamento do INSS. Quem quisesse receber mais, teria de migrar para algum tipo de capitalização. Deputado federal pelo Ceará, Benevides chegou a ser cotado para se tornar relator da reforma da Previdência na Comissão Especial.