O máximo que Jair Bolsonaro ganhou de Donald Trump, na viagem a Washington, foi a possibilidade de apoio – condicionado – às pretensões brasileiras de entrar na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), espécie de “clube dos ricos” ou, ao menos, civilizados economicamente. Nas palavras do ministro da Economia, Paulo Guedes, ser integrante da OCDE é uma forma de obrigar o país a cumprir certas regras.
Haverá apoio se o Brasil abrir mão de tratamento privilegiado em outra entidade, a Organização Mundial do Comércio (OMC), atualmente presidida pelo brasileiro Roberto Carvalho de Azevêdo. Pelas regras da OMC, como país emergente o Brasil tem direito a tratamento diferente, ou seja, a barreiras menores de entrada em certos mercados. Essa condição permite, em alguns casos, tarifas menores de importação. Ou seja, os produtos brasileiros ficariam mais caros nos EUA, por exemplo.
– O Brasil perde no curto prazo, e é difícil fazer cálculos dos ganhos no longo – avalia Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior.
O resumo da sopa de letrinhas, portanto, é que o Brasil corre o risco de trocar o certo – produtos menos taxados no Exterior – pelo duvidoso – ganhos no futuro.
– Não parece um bom negócio – diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
A OMC é a entidade que deve regular o comércio internacional, mas como não pode obrigar a cumprir regras, corre o risco de se tornar inócua. Assim como o governo dos EUA faz exigência para apoiar as pretensões nacionais na OCDE, seria conveniente que o governo brasileiro, na simbólica troca de camisetas, evitasse se fardar com a do parceiro.
Trocas comerciais e estratégicas entre os dois países podem e devem ser ampliadas. Mas de forma organizada e, acima de tudo, negociada. É o capítulo 1 da aula de relações internacionais: só conceder se houver concessão da outra parte. O Brasil não cumpriu esse princípio ao permitir a entrada de americanos sem visto. Agora, deve ter cuidado para usar sua biodiversidade – apontada como moeda de troca nas relações com os americanos – com toda a cautela.