Se ainda havia dúvidas, o mercado financeiro deu um recado sonoro ao governo federal ontem. Com o início da movimentação da reforma da Previdência no Congresso e da defesa da proposta feita pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, a bolsa subiu 2,79% e o dólar recuou 0,7%, para R$ 3,842. Embora tenha sido um dia de melhor humor também no Exterior, as altas na Europa ficaram abaixo de 1%, assim como em Nova York.
Mesmo consideradas as diferenças – no Brasil, a bolsa costuma reagir com mais intensidade do que em mercados maduros –, fica evidente a influência do ajuste no discurso e na prática. A bolsa retomou o nível dos 98 mil pontos, patamar atingido no início de fevereiro que havia gerado expectativa de alcançar inéditos 100 mil pontos. Agora, essa marca histórica voltou a se tornar possível no curto prazo. Reforça a aprovação ao governo do bom desempenho dos papéis das estatais: Eletrobras e Petrobras – ajudada pela alta do petróleo e por ações de gestão – subiram mais de 5%, Banco do Brasil, acima de 3%.
Apelidado de “kit eleitoral” nas disputas presidenciais, o pacote também indica a percepção da gestão pública no mercado. Disposto a fornecer distrações para sua base de apoio, o governo Bolsonaro parece esquecer que o mesmo tuíte lido por seguidores do tempo da campanha será escrutinado por investidores e especuladores. Foi assim durante o Carnaval, será da mesma forma nos próximos seis meses, os mais críticos do ponto de vista da aprovação da reforma.
Passaram-se 70 dos cem primeiros dias do governo sem grandes feitos a serem listados, especialmente na área econômica. A essa altura, é preciso definir prioridades. Se o Planalto souber sinalizar as que representam o cumprimento de promessas de campanha, vai agradar ao mercado e ao eleitorado. Se optar por manter o padrão de comportamento de campanha, com disputas internas e intrigas montadas para atingir adversários que não determinam seu futuro, o governo vai aumentar seu nível de desgaste inutilmente e contraprodutivamente. É um dia para consolidar o aprendizado.