Não foi determinante, mas os recente tuítes presidenciais pesaram, ontem, no mercado financeiro. A bolsa recuou 0,41%, enquanto o dólar subiu 1,47% – maior alta nos últimos três meses – para R$ 3,83. O principal fator foi o cenário externo, com perspectivas de desaceleração global e percepção de mais risco. Mas analistas apontaram a má repercussão internacional dos tuítes de Jair Bolsonaro como fator agravante.
Embora pela manhã analistas duvidassem que a divulgação de imagens obscenas na conta do presidente da República pudesse influir no mercado, ao final do dia a percepção havia mudado. André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, avalia que o o contágio ocorreu porque “o mercado está começando a perceber que Bolsonaro não tem uma estratégia definida”. Esperava-se que o presidente, ao final do inevitável intervalo do Carnaval, dedicasse suas energias para facilitar a articulação em torno da aprovação da reforma da Previdência.
Entre os analistas, a forma polida encontrada para tratar assunto tão fora dos padrões foi “dificuldade de comunicação” do governo federal. Um diretor de um grande banco disse à coluna que o maior problema de Bolsonaro “é que ele tem que controlar os filhos”. A conta do presidente em que o polêmico vídeo foi publicado costuma ser administrada pelo mais jovem de seus filhos com mandato, Carlos.
A seis dias do primeiro grande teste da reforma no Congresso – a análise na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara nos Deputados, prevista para terça-feira –, os movimentos de Bolsonaro têm sido contraditórios. Embora tenha ido pessoalmente levar o texto à Câmara, deu declarações que podem aumentar a chamada “desidratação”, ou seja, reduzir a economia prevista. Pablo Spyer, diretor da corretora Mirae, avalia que há “apreensão em relação à velocidade de aprovação das reformas, informação que realmente interessa aos investidores Ainda não há risco à aprovação, desse ponto de vista, mas a dificuldade cresce.