Não teve nem o tradicional bate-boca sobre raposas e galinhas a sabatina do futuro presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) nesta terça-feira (26). Pesou o fato de envergar o nome do avô, o ex-ministro e economista Roberto Campos, pai de uma geração de liberais na economia com âncora racional. Foi aprovado pelos 26 senadores, ou seja, por unanimidade
Assim como fez durante o período de transição, Campos Neto antecipou pouco sobre sua atuação no comando da política monetária. Seus principais desafios serão reduzir o custo de intermediação do crédito, que cresceu durante a crise e ainda não voltou ao já elevado “normal” no Brasil. O cliente que deposita seu dinheiro no banco ganha muito pouco acima da inflação.
Outro, que precise pedir emprestado, pagará quase dez vezes mais do que os índices de preços. Essa diferença, chamada “spread” no jargão financeiro, sempre foi espantosa no Brasil. E só cresceu com a recessão, que levou ao endividamento e à inadimplência. E mesmo que os calotes cresçam menos, o spread segue nas alturas. Sob a presidência de Ilan Goldfajn, houve tentativa de reduzir a diferença, até agora sem resultados.
No ponto que é, ao mesmo tempo, o mais consensual e o mais polêmico no sistema financeiro, o da concentração de mercado, o herdeiro liberal deu um nó nos senadores. Recorreu ao já desgastado argumento de que a concorrência vai aumentar com as novas tecnologias. É fato que as fintechs florescem no Brasil, mas ainda vai levar tempo até que representem um real competidor, capaz de pressionar custos. Em todo o caso, é bom ter um dirigente de Banco Central atento ao fenômeno da desintermediação e do blockchain.
Nem a insistência no tema produziu melhores argumentos. Campos Neto evocou a crise de 2008, que fez com que muitos países aceitassem mais concentração em troca de mais segurança. É verdade. Só que os Estados Unidos, na época, quase 500 instituições financeiras quebraram e ainda restaram cerca de 6,5 mil. No Brasil, cinco instituições concentram quase 80% do crédito. Passou da hora de mudar.