Em entrevista à coluna, a cofundadora do Nubank, Cristina Junqueira, detalha os números do cartão de crédito da marca, criado em 2013 e conhecido por não cobrar anuidade. Como segue em crescimento, a empresa afirma que ainda não tem como principal preocupação o lucro – no ano passado, o prejuízo caiu 4%, para R$ 117 milhões.
Quantos clientes o Nubank tem hoje no país?
Passamos de 4 milhões. Quando começamos, em 2013, achávamos que seria incrível chegar a 1 milhão de clientes em cinco anos. Atingimos essa marca em dois anos. Temos um crescimento em ritmo nunca imaginado.
O que fez o Nubank ganhar espaço no mercado brasileiro?As pessoas entenderam que a empresa também é inconformada com a burocracia no país, a baixa qualidade de serviços oferecidos e os preços cobrados aos consumidores. Outra questão é a experiência que conseguimos criar para os clientes por meio da tecnologia. Lançamos um cartão controlado por aplicativo, sem papelada. As coisas simplesmente funcionam. Se nosso cliente quiser saber se uma transação foi aprovada, não precisará ligar para um call center e ficar esperando para ser atendido por 30 minutos, enquanto ouve uma musiquinha de fundo. Ele abre o aplicativo e vê a informação correta. A experiência superior do ponto de vista da tecnologia traz diferença para o consumidor. Por fim, tem a questão do preço. Queremos ter eficiência para repassá-la em forma de isenção de tarifas, de menos custos para os clientes. Nosso cartão não tem anuidade.
O Nubank ainda apresenta uma lista de espera de clientes?
Sim. A história da lista nasceu com a empresa querendo controlar um pouco o volume de clientes. Mas, de maneira rápida, nosso gargalo passou a não ser mais as condições de operação. Começamos usar a lista de espera para gerenciar o quão rápido nossos modelos de análise de crédito estavam evoluindo. A lista funciona assim: quem não tem perfil de crédito muito bom, que não será aprovado imediatamente, fica na fila por até 90 dias. Isso ajudou a empresa a crescer. Se tivéssemos falado não para muita gente logo, talvez não teríamos tantos clientes. Muitos deles passaram por lista de espera em algum momento.
Hoje, há quantas pessoas na lista de espera?
Mais ou menos meio milhão.
Qual o peso da Região Sul na operação da empresa?
Temos clientes no Brasil todo. A distribuição deles segue a do PIB (Produto Interno Bruto) e as condições de acesso à internet. Para alguém ser nosso cliente, precisa acessar a rede, ter smartphone e baixar nosso aplicativo. Isso tem impacto em nossa operação pelo país. A Região Sul tem representatividade maior em termos de distribuição de PIB e acesso à internet do que outros locais do Brasil. Hoje, o Sul é 20% da nossa base de clientes. É algo bastante grande.
O que é importante para uma empresa conseguir inovar?
Diversidade. Se o time de uma empresa tiver cinco pessoas com as mesmas experiências, não terá ideias diferentes. Terá as mesmas opiniões. É preciso que haja ideias diferentes. Muito do valor de uma empresa vem da diversidade. A criatividade e a inovação surgem com isso.
Quantos funcionários o Nubank tem hoje?
Hoje, são mais ou menos 1,1 mil funcionários. Uma curiosidade é que, em nosso prédio em São Paulo, a capacidade é para até 1,2 mil pessoas. Daqui a pouco, não será suficiente (risos). Por isso, já alugamos outro prédio, na mesma rua do edifício atual. Lá, o espaço é para mais 900 pessoas. A partir de setembro, nosso time estará dividido nos dois lugares.
Com quantos funcionários a empresa projeta fechar o ano?
Talvez com mais ou menos 1,3 mil.
Como o Nubank se remunera?
Quando os consumidores fazem compras, os lojistas pagam um percentual para aceitar cartões. Desse percentual, como emissores de cartões, recebemos uma fatia. É o que chamamos de receita de intercâmbio. É a nossa maior receita. Além disso, temos a relativa ao juro, quando um cliente entra no rotativo, por exemplo. Também há uma pequena receita sobre a taxa de câmbio de compras internacionais.
Qual o cenário que para a empresa no segundo semestre? As incertezas das eleições podem ter impacto nos negócios?
A empresa começou em 2013. Hoje, o país segue cambaleando para sair da recessão. Ou seja, nunca tivemos período de ventos a favor (risos). Pelo contrário. Nesse período, a inadimplência subiu no Brasil, o desemprego aumentou. Apesar das incertezas que existem, nosso negócio não dependeu até hoje de as condições estarem boas. Dependeu, sim, da insatisfação das pessoas com os serviços financeiros. Mas é claro que um ambiente melhor também ajudaria na concessão de crédito. Agora, passamos a trabalhar com a NuConta. É a maneira de tentarmos reinventar a conta bancária. Nossa prioridade um, dois e três para os próximos meses é essa. Queremos crescer a base da NuConta e buscar mais clientes. É uma conta, e não um cartão de crédito. Não depende tanto de questões como o desemprego.
Com quantos clientes a empresa pretende encerrar 2018?
Aqui no Nubank, qualquer projeção que já foi feita acabou muito mais do que superada (risos). Não levamos muito a sério esse negócio. O que tentamos fazer é crescer o máximo da maneira mais rápida possível.