O colombiano David Vélez diz que a burocracia exigida para a abertura de uma conta bancária e o nível das taxas de juro chamaram sua atenção assim que desembarcou no Brasil. Em 2013, começou a desenhar o projeto da Nubank, que se tornou conhecida por oferecer cartões de crédito sem a cobrança de anuidade.
Antes de vir a Porto Alegre, para receber prêmio nesta terça-feira no Fórum da Liberdade, Vélez conversou com a coluna. Na entrevista, garantiu que a Nubank seguirá por "longo prazo" no Brasil, mesmo com a proposta do governo de reduzir, para dois dias, o tempo de pagamento das operações com cartão de crédito a lojistas.
O início da empresa
"A primeira dificuldade da startup foi levantar capital. O consenso no país apontava que era impossível concorrer com os grandes bancos. Não conseguimos levantar capital aqui. Busquei investidores no Vale do Silício. Somos uma fintech (startup de serviços financeiros), uma formiguinha do lado dos bancos. Nossa vantagem é o custo de operação mais baixo. Os bancos têm agências em cada esquina."
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A estrutura da Nubank
"Mais de 6 milhões de pessoas já solicitaram nosso cartão, entre pedidos aprovados e rejeitados. É um processo de seleção de clientes que muda todos os dias. Usamos modelos de crédito e antifraude. Olhamos bases de dados, como Serasa. Hoje, são 500 mil pessoas na fila de espera (para ter o cartão). A Nubank tem 440 funcionários em São Paulo. Mudamos a empresa para novo prédio no ano passado. Estamos contratando profissionais de diferentes áreas, como engenheiros e analistas de dados."
A proposta do governo
"Nosso consumidor paga a fatura em até 30 dias. Se tivéssemos de repassar antes esses valores aos lojistas, a Nubank precisaria de muito caixa, assim como os bancos. Teríamos de levantar capital. Se isso mudar, teria de ser acompanhado por várias mudanças. Mas estamos muito confiantes com as conversas que tivemos com reguladores. Pensamos que as mudanças propostas pelo governo (para cartões de crédito) não serão algo tão drástico. Vai ser possível acomodar esse processo. O país é o mais importante da América Latina. Tem grande população de jovens que usam celular, além de altas taxas de juro. É uma boa oportunidade. Vamos continuar com foco no país. Vamos seguir no Brasil no longo prazo."
O futuro da Nubank
"Hoje, estamos muito focados em cartões de crédito. Há muito a ser feito nesse segmento. Por enquanto, estamos bem focados. No longo prazo, poderemos pensar em outros produtos."
A visita a Porto Alegre
"Fiquei honrado convite do Fórum da Liberdade, que tenta criar sociedade mais competitiva. O ponto da palestra será este: como pretendemos mudar o mercado. A ideia é contar um pouco da nossa história."