Apesar de dar maciço apoio a Jair Bolsonaro, empresários admitem que o capitão reformado no Planalto representa um risco desconhecido. "Problema resolvido, problema criado", tem dito aos colegas o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn. A primeira parte corresponde ao afastamento do "risco PT", a segunda, ao "risco Bolsonaro". O candidato pouco fala em economia, e as raras declarações, dele ou de seu entorno, são com frequência desautorizadas ou contraditas.
Integrante da comitiva de uma dezena de entidades empresariais que há pouco mais de uma semana levou apoio a Bolsonaro, o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro (primeiro à direita) resume o tamanho da tolerância à incerteza:
– Uma coisa é o programa pré-eleição, outra é depois da vitória.
Foi depois dessa visita que Bolsonaro admitiu rever a inclusão do Ministério de Indústria e Comércio na superpasta destinada a Paulo Guedes e o anúncio de abandonar o Acordo de Paris. As duas propostas contrariam o interesse do empresariado.
O grupo saiu de lá com o aceno de poder acompanhar a transição.
Quem tentou entender o motivo do apoio tão entusiasmado do empresariado a Jair Bolsonaro, mesmo diante do nebuloso programa de governo do capitão reformado e das contradições internas entre o candidato, seu guru econômico e o núcleo militar, não ouvia apenas um arrazoado contra o PT. “É preciso quebrar o sistema”, proclamavam vários donos de negócios cuja existência depende de uma mínima estabilidade legal e econômica.
Um dos disseminadores da tese disse à coluna que se trata de "quebrar o mecanismo" – como ficou conhecido o sistema de corrupção montado em torno de PT, PSDB, PP, PMDB, para citar apenas os maiores partidos, muitos dos quais sofreram derrotas pesadas nessas eleições. Mas vai além disso, explica o empresário, que pede para preservar seu nome:
– O sistema vem da transição do período da ditadura para a democracia, quando se escreve a nova Constituição, muito protetora da classe política.
Em outras manifestações, também é possível perceber desconforto com a desigualdade no número de políticos e empresários presos pela Operação Lava-Jato. Nenhum reparo à Lava-Jato, mas ao "sistema" que protege os políticos.