No dia seguinte à eleição de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República, o mercado financeiro começou o dia com ânimo cauteloso, contrastando com dias de euforia quase irracional que marcaram o chamado "rali Bolsonaro". O dólar chegou a cair, com alta na bolsa mas no início da tarde os dois ativos inverteram a mão. A moeda americana fechou com alta de 1,4%, para R$ 3,705, enquanto a bolsa sofreu queda de 2,25%.
No início da manhã, a moeda americana chegou a ser negociada abaixo de R$ 3,60, mas não sustentou o patamar. Na virada da manhã para a tarde, mudou de mão e passou a subir.
– O que surpreendeu foi a abertura (a bolsa chegou a encostar na máxima histórica, acima de 88 mil pontos). A realização é saudável, o mercado normalmente faz isso, sobe na expectativa e baixa no fato – avalia Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama.
"Realização", no mercado financeiro, ocorre quando investidores e especuladores transformam ganhos virtuais acumulados em lucros reais. Vendem ações que subiram e embolsam os ganhos do período. Geralmente, isso ocorre quando há mais entrada de novos compradores no pregão. Um dos motivos da cautela, acentua Espírito Santo, é a percepção de mudança (para pior) no cenário internacional, da qual ainda "não se sabe o tamanho".
André Perfeito, economista-chefe da corretora Spinelli, avalia que o mercado aguarda com "grande ansiedade" o posicionamento de Jair Bolsonaro e sua equipe econômica sobre temas cruciais do próximo governo:
— Até agora, o mercado precificou a derrota do PT, uma vez que se sabia com mais precisão o que o PT é do que o PSL poderá vir a ser. Agora a bola, por assim dizer, está com Bolsonaro e Paulo Guedes. Os sinais ainda são truncados sobre o que pretendem. Há notícias, por exemplo, que o general da reserva Augusto Heleno (provável ministro da Defesa do gabinete de Bolsonaro) quer rever o acordo entre Boieng e Embraer.
A virada no mercado afetou também o chamado "kit eleições": os papéis da Eletrobras, que chegaram a saltar dois dígitos em um dia durante o "rali Bolsonaro", caíram 5,53%, e os da Petrobras recuaram 4,28%. Os do Banco do Brasil mantiveram alta durante parte da tarde, mas terminaram também com baixa de 1,3%.
Como analistas já previam, o efeito da vitória de Bolsonaro – ou a derrota do PT – estava "precificado", quer dizer, embutido no preço dos ativos. A partir de agora, o que investidores e especuladores vão cobrar serão sinais e anúncios de medidas do presidente eleito e de seu entorno. Como a campanha de Bolsonaro se caracterizou por declarações contraditórias, afirmações seguidas de desmentidos e propostas pouco detalhadas, há muita expectativa por definições e, especialmente, esclarecimento de ambiguidades.
— Até agora, o mercado vinha tateando. Aconteceu o evento (a eleição de Bolsonaro). Agora, terá de mostrar qual é a equipe, se o comando do Banco Central será mesmo mantido, se o responsável pelo Tesouro Nacional será alguém comprometido em fechar o caixa, quais os ministérios serão cortados — detalha Espírito Santo.