As condições que levaram ao desastre aéreo em Gramado, na Serra, só serão esclarecidas a partir da investigação a cargo do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). Até lá, nada pode ser descartado.
O fato de o modelo da aeronave não dispor de caixa-preta dificulta o trabalho de reconstituição do voo que decolou do aeroporto de Canela e foi tragicamente interrompido.
Ainda que de forma preliminar, no entanto, é necessário que a sociedade gaúcha discuta as condições dos aeroportos do interior do Rio Grande do Sul.
A coluna conversou na manhã desta segunda-feira (23) com o professor Lucas Fogaça, coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da Escola Politécnica da PUCRS, para compreender os níveis de informações e controle dos aeroportos.
Há três tipos:
1) Os aeroportos que dispõem de torre de controle, estrutura que tem poder de autorizar ou proibir pouso e decolagem. A torre informa as condições do tempo e da pista. Diz, por exemplo, se o aeroporto está fechado, devido à falta de condições de voo. Se o piloto insistir em decolar nessas condições, estará, nesse caso, cometendo uma infração, passível de multa. Isso, no entanto, destaca o professor, beira o absurdo, porque nenhum piloto, em sã consciência, desobedeceria a ordem da torre de controle.
Apenas o aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, e o aeroporto Aeroporto Regional Brigadeiro Cherubim Rosa Filho, de Santa Maria, têm torre de controle.
2) Um nível abaixo é o de aeroportos que dispõem de serviço de informação de voo. Trata-se de uma sala de rádio junto ao terminal, onde há um painel que recebe informações a partir dos sensores na pista sobre intensidade do vento e outros dados. É o caso do aeroporto Hugo Cantergiani, de Caxias do Sul, e do João Simões Lopes Neto, de Pelotas, por exemplo.
3) E há aeroportos que não têm nada, como é o de Canela. Não há ninguém que informe as condições da pista ou do tempo. A decisão de decolar fica por conta do piloto. Essa é a situação também dos aeroportos de Torres, Rio Grande e Santa Rosa.
Costuma-se aprender a partir de tragédias e trabalhar na prevenção. Antes mesmo da conclusão da investigação, já é possível perceber que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) precisa, urgentemente, fiscalizar melhor os aeroportos do interior do Estado, principalmente em regiões que recebem cada vez maior fluxo de turistas e em áreas com condições meteorológicas adversas.
Da mesma forma, o professor destaca que seria necessário que o poder público e privado, no caso de aeroportos concedidos, façam maiores investimentos na infraestrutura em áreas de pujança econômica, pelo menos sistema de rádio, aos moldes de Caxias do Sul, e chegadas e partidas por instrumentos.
Além disso, Fogaça destaca a necessidade de melhoria constante na qualificação dos pilotos para lidar com questões meteorológicas e situações de emergência.