Se é fato que especulações eleitorais já abalavam a reação positiva do mercado financeiro de julho, era pequeno o efeito de boatos e pesquisas de voto ainda inconclusivas. Na sexta-feira, a queda de 15% da lira turca ante o dólar ativou as sirenes dos investidores sobre o risco do emergentes. Mais, sobre emergentes de risco, entre os quais o Brasil está listado.
O terremoto financeiro na Turquia exigiu reuniões entre o governo e bancos locais no fim de semana. Analistas entendem que, sem ajuda externa, não há solução para a dívida de US$ 350 bilhões, em sua maior parte privada. Como um pedido ao Fundo Monetário Internacional (FMI), a exemplo da Argentina, seria intolerável ao presidente turco Recep Erdogan, porque implicaria reconhecimento de decisões equivocadas e embutiria condicionantes, aliados como Rússia e China seriam alternativas para obter ajuda.
E foi às vésperas do ajuste de lupa dos investidores estrangeiros sobre países emergentes em situação de fragilidade que o Supremo Tribunal Federal (STF) deixou o Brasil mais exposto. No país que não fez reformas – não apenas a da Previdência, a mais reclamada, mas outras tão difíceis quanto essenciais, como a tributária –, a suprema corte de Justiça aprofundou o buraco orçamentário com aumento salarial que ecoará até alcançar R$ 4 bilhões.
É a mais alta instância do Judiciário, que já não cumpria uma lei do país – o teto dos gastos – antes do reajuste. Nas contas do Tesouro Nacional, o poder já havia aumentado os gastos em 8,8% só no primeiro semestre. Ultrapassara o limite de 7,2%, ainda mais generoso do que a média. O teto define que as despesas não podem subir além da inflação acumulada em 12 meses encerrados em junho, o que significa 3% em 2018. Será preciso cortar mais de quem já tem menos.