O anúncio do acordo entre a gigante americana Boeing e a brasileira Embraer ainda provoca muita confusão no mercado. Além da avaliação da empresa, de US$ 3,8 bilhões (quase R$ 15 bilhões pelo câmbio atual), ter sido considerada baixa, houve grande surpresa com o fato de a área de defesa também ter entrado no negócio. Todos os analistas, e até os primeiros relatos oficiais davam conta de que a criação de uma nova companhia, controlada em 80% pela Boeing e participação de 20% da Embraer, seria focada apenas em aviação comercial.
No entanto, no final da manhã desta quinta-feira (6), ficou claro que também haverá associação na produção de aeronaves dedicadas à defesa, com relação de participação inversa (Embraer 80%, Boeing 20%). Além de o segmento de defesa ser habitualmente alvo de pesadas proteções a presença estrangeira, por ser estratégico, as primeiras reações do governo Temer sobre a negociação mostravam consciência do que estava em jogo.
Além de ser uma rara empresa brasileira com forte inserção no mercado global, a Embraer é uma das companhias mais inovadoras do Brasil. Pouco antes da venda, foi divulgado o resultado do Anuário Inovação Brasil, ranking elaborado pelo jornal Valor Econômico e pela consultoria Strategy&, subsidiária da PwC.
A Embraer foi vencedora pelo terceiro ano consecutivo, resultado de sua aposta em geração de inteligência no negócio. Cerca de metade de toda sua receita atual é gerada por produtos e serviços criados nos últimos cinco anos. Todo esse conhecimento e essa forma rápida de evoluir passam para a nova gigante, controlada pela Boeing. As ações da Embraer despencam mais de 14% na bolsa neste início de tarde de quinta-feira (5). De todas as vendas de empresas com algum tipo de incidência estatal (a União tem golden share, que permite bloquear decisões estratégicas), essa era a menos necessária e urgente.