A venda da Braskem para a LyondellBasell tornará a Innova, no polo de Triunfo, a maior petroquímica nacional, com receita líquida de R$ 2,2 bilhões, caso os órgãos de defesa de concorrência não imponham restrições. Desde 2013, a empresa pertence ao polêmico Lirio Parisotto. O empresário é considerado um do maiores investidores individuais na bolsa e foi envolvido em escândalo por acusações de agressão da ex-modelo Luiza Brunet. O gaúcho de Nova Bassano aceitou responder por e-mail a perguntas da coluna.
Há preocupação sobre a provável venda da Braskem para LyondellBasell?
Acompanhamos as notícias com toda a atenção: hoje, as práticas comerciais e institucionais da Braskem têm um claro fundamento monopolista, de aniquilação da competitividade. Sabemos o quão nociva é essa política, considerada abominável nos mercados mais desenvolvidos, justamente pelos danos profundos e duradouros que traz à toda cadeia produtiva e sociedade como um todo, o conhecido atraso. Esse é o momento certo para que se adotem medidas muito efetivas contra a concentração, para que não adquira novas formas, ainda mais abrangentes. O foco do problema é cristalino e conhecido: sem o claro e eficaz estímulo à concorrência, nada tende a mudar.
Qual a dependência da Innova de matéria-prima da Braskem?
Nossos insumos mais essenciais, como o benzeno, eteno, vapores de baixa e alta pressão, óleo BTE, são comprados da Braskem. As condições contratuais são leoninas, inimagináveis numa prática comercial saudável, como a que mantemos com nossos clientes. Essencialmente, são condições impingidas goela abaixo. Hoje pagamos, por exemplo, no eteno mais do que o dobro do preço do mercado americano, onde a LyondellBasell atua fortemente.
Há alternativas viáveis de abastecimento?
Todas as alternativas viáveis são avaliadas, em bases constantes, por nossas equipes. Fato é que a própria estrutura monopolista age por meio de um intrincado arcabouço para blindar as alternativas de competitividade, justamente para perenizar suas condições. Não é necessário repetir que a conta do atraso chega ao país como um todo.
A maior preocupação em relação à compra é sobre preço?
A urgência é a quebra desse nefasto paradigma monopolista. Não podemos deixar de levar em conta a posição e peso global da LyondellBasell e o que isso pode representar, no sentido de que resulte em mais do mesmo para o nosso mercado ou, até mesmo, um agravamento das condições atuais. Transferir esse monopólio para uma empresa desse porte sem proteção é muito preocupante.
Indústrias plásticas consideram adequada a política de preços da Braskem, por que avalia de forma diferente?
É curiosa a afirmação, pois a voz corrente no mercado não qualifica como adequada a política de preços da Braskem. Os adjetivos remetem, com frequência, ao monopolismo arrogante que estamos trazendo à luz. Hoje temos problemas com o antidumping aplicado a resina de polipropileno, a Braskem vende 40% mais caro no mercado interno do que o preço que exporta.
O que a Innova sabe sobre a política de preços da Lyondell a tranquiliza ou a preocupa. E por quê?
A LyondellBasell, em tese, vivencia práticas comerciais e de compliance mais avançadas. Isso deveria trazer reflexos positivos à política de preços, rumo a um capitalismo mais saudável. No caso da compra da Braskem, possivelmente haja necessidade de medidas como, por exemplo, a venda de polos petroquímicos em diferentes partes do país. Nada muda sem o eficaz estímulo à concorrência, podendo até piorar. A LyondellBasell concorre com nossa empresa no mercado brasileiro vendendo monômero de estireno (principal matéria-prima da Innova) com preços muitas vezes abaixo do preço internacional. A China, por exemplo, aplicou taxa de antidumping ao monômero de estireno produzido nos Estados Unidos. Estamos muito preocupados com esta situação monopolista. É hora de os órgãos controladores avaliarem muito bem esta negociação para proteger os fabricantes nacionais.