Fundador da Chilli Beans, Caito Maia será um dos palestrantes da Feira Brasileira de Varejo (FBV), que ocorre em Porto Alegre de 28 a 30 de maio. No ano da maioridade – começou há 21 anos, vendendo óculos trazidos do Exterior para os amigos –, definiu meta de ter 1,2 mil pontos de venda até 2022. Em contraste com a imagem de ex-roqueiro, Caito diz que "trabalha que nem cachorro" e que "aprendeu na porrada" com a crise e um sócio que cobra resultados. Cita como exemplo do papel do dono um restaurante tipo pé-sujo em que esteve em Niterói:
– Era tipo pé-sujo mas era limpinho, tinha comida maravilhosa, frutos do mar deliciosos.
O dono, com uns 85 anos, veio na mesa. Faz diferença. Não trabalho, me divirto, porque amo o que faço.
Qual é a meta de crescimento da Chilli Beans?
Nosso plano de cinco anos, até 2022, é chegar a 1,2 mil lojas e quiosques no mundo. Dessas, 300 são fora do Brasil. Ainda vendemos em 1,3 ópticas no Brasil e queremos chegar a 5 mil pontos de venda nos próximos cinco anos. E alcançar mais 5 mil ópticas com armações para óculos de grau.
Em 2016, a Chilli Beans passou a Ray Ban Brasil na pesquisa da Euromonitor. O Brasil é único lugar do mundo em que alguém está na frente da Ray Ban.
A decisão de vender em ópticas, tomada em 2016, tem relação com crise?
Em 2016 e 2017, não tivemos queda nas vendas, ficamos do mesmo jeito, como estátua. Andamos de lado, como se diz no varejo, porque fizemos algumas lições de casa, abrimos 430 lojas nesses dois anos. O canal das ópticas tem um pouco de crise, é claro, mas o mais importante é lançar categoria nova e muito relevante. A cada cinco armações de óculos, quatro são de grau e uma para sol. Das nossas 804 lojas, 70% são em shoppings. O mercado de grau é muito na rua, com ópticas, Em dois anos, a Chilli Beans é a terceira maior do segmento.
O fato de óculos de grau não ser supérfluo teve peso?
Teve, mas há outras questões. O segmento de armações de grau é supercareta, e a Chilli Beans tem atitude e design. A gente cliente pedindo atitude, preço e qualidade em um mercado quatro vezes maior do que o de óculos escuros. Vimo oportunidade de agir no mercado com atitude bacana e uma história diferente. Graças a Deus, vai superbem. Inventamos um produto que representa 50% do mercado de grau, que chama multi. É um ímã embutido em uma lente, como se fosse uma casquinha, e você gruda esse ímã na frente dos óculos, mas mudando o formato. Por exemplo, você usa lente quadradinha e coloca uma casquinha de gatinho, fica um óculos escuro de gatinho. Em 2016, a Chilli Beans passou a Ray Ban Brasil na pesquisa da Euromonitor. O Brasil é único lugar do mundo em que alguém está na frente da Ray Ban. Em qualquer outro lugar, eles são líderes com 50%. No Brasil, temos 28%, e eles, 21%.
a crise, que colocou em xeque várias coisas. Nos últimos três anos, quem teve humildade e trabalhou que nem louco agora vai colher muito do que plantou. Só os fortes ficaram. Muita gente honesta e trabalhadora não conseguiu.
Você começou muito jovem, de forma muito arrojada, mas tem 20 anos de mercado. O que mudou?
Infelizmente, os maiores aprendizados são na porrada. A gente adoraria aprender numa boa. Os últimos três anos trouxeram muito amadurecimento, como empresário, como gestor de pessoas, de marketing. Claro que continuo com ousadia, é a essência, não tem jeito. Adoro fazer coisas diferentes, adoro confusão, não normalidade, mas hoje com mais naturalidade, calma, tranquilidade. Esse é o aprendizado. Nesses 20 anos, os últimos quatro anos foram os que mais me ensinaram, mais me amadureceram.
Por conta da crise?
Primeiro, com a entrada do fundo de investimento Gávea, que tem 29% do negócio há cinco anos e meio. Trouxe um nível de maturidade empresarial muito grande, de gestão de empresa. Quando você tem sócio, toma decisões e é questionado. A segunda foi a crise, que colocou em xeque várias coisas. Nos últimos três anos, quem teve humildade e trabalhou que nem louco agora vai colher muito do que plantou. Só os fortes ficaram. Muita gente honesta e trabalhadora não conseguiu. Fizemos muitas lições de casa, de enxugar time, de cortar gordura. A empresa está enxutinha e bonitinha para fazer acontecer.
Trabalhei que nem cachorro para ter essa conquista. Malho todo dia, sou superchato com alimentação, não bebo, não uso droga, sou super disciplinado e saio superpouco.
Como você vê o ano não está entregando tudo o que se esperava dele?
Estou muito contente. Preocupado com o dólar, porque subiu e sou 80% dolarizado. Então, tenho perda de margem gigantesca. Mas acumulamos aumento de 8% em comparação ao mesmo período de 2017, e a rede com um todo cresce 12%. Trabalhei que nem cachorro para ter essa conquista, não caiu do céu de jeito nenhum.
Não se espera de um ex-roqueiro essa ideia de "trabalhar que nem cachorro". Você paga um preço pela imagem?
Pago bastante. Pessoas falam que sou uma grande mentira. Malho todo dia, sou superchato com alimentação, não bebo, não uso droga, sou super disciplinado e saio superpouco. Saí de São Paulo quarta-feira da semana passada (dia 9) e visitei quase 40 lojas no Rio. É muito trabalho, é muita mão na massa para fazer a coisa acontecer. Temos um primeiro quadrimestre com bom resultado. São sementes que plantamos no último ano e estamos colhendo agora. Nossos franqueados amadureceram com a gente e estão saudáveis.
As 300 unidades planejadas para o Exterior serão só nos países em que a Chilli Beans já está?
Em nove países, temos lojas há cinco, seis, 10 anos. Não é para inglês ver. Então, primeiro vamos crescer onde já estamos, mas também vamos entrar em mercados novos.
Há países mapeados?
Estamos para assinar um contrato grande com um master franqueado paras Arábia Saudita, Dubai, Abu Dhabi, África, Índia e Oceania. Prevê 280 lojas. Em planos de expansão, planejam-se 400 pontos de venda para ficar em 300.