As notícias não são tão preocupantes, diz a economista Glenda Quintini, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Coautora de recém lançado estudo sobre o impacto da inteligência artificial no trabalho, a italiana afirma que robôs não acabarão com metade dos empregos, como se pensava.
Robôs, supercomputadores e algoritmo vão roubar o trabalho de humanos?
Com base nos dados que temos do nível de aprendizado das máquinas, estimamos que 14% dos postos de trabalho correm risco de desaparecer em curto espaço de tempo. Nossa projeção é de que outros 32% dos empregos vão mudar significativamente em duas décadas devido ao avanço da automação. Trabalhos repetitivos, cuja tarefa maior consiste na aplicação de regras, correm mais perigo.
Quando isso deve acontecer ?
Estamos falando em um período de 15, 20 anos. Mas depende da capacidade de penetração e adoção de tecnologia entre os países. A troca de conhecimento entre indústrias de diferentes partes do mundo é crucial nesse processo. Na teoria isso é fácil, mas na prática, não. Muitos países têm leis trabalhistas ou sociais que podem impedir o avanço dos robôs.
Que profissões têm mais chance de sobreviver nos próximos 20 anos?
A pergunta que devemos fazer é: quais habilidades hoje ainda não são automatizadas? Em geral, tarefas altamente cognitivas, que envolvem a solução de trabalhos complexos, criatividade e interação social. Trabalhos com baixa qualificação, mas que requerem habilidade manual, percepção e adaptação a diferentes ambientes, como o faxineiro, são mais difíceis de serem substituídos.
Pessoas mais pobres estão na zona de perigo?
Foram, sem dúvida, o público mais atingido até agora. Vimos isso na agricultura e na indústria. Nos serviços, a automação não chegou com força. Pelo menos até agora. Não vejo uma relação de casualidade, mas uma correlação entre pobreza e pouco investimento em qualificação profissional.
Pesquisas anteriores indicavam que a inteligência artificial eliminaria quase metade das vagas. Nesse artigo, a senhora afirma que serão perdidos menos empregos. Por quê?
A principal diferença do nosso estudo para os anteriores é que olhamos para categorias de ocupação e não apenas para profissões. Nos preocupamos em descrever as tarefas. Um encanador de uma grande empresa não é, necessariamente, o mesmo que o de uma cidade pequena. Existem muitas variações de ocupação dentro da mesma profissão. Conforme surgem tecnologias, aparecem junto novas profissões. A questão é que as pessoas que vão perder o emprego não estarão aptas para ocupar essas futuras vagas. Não necessariamente haverá uma redução drásticas de empregos, mas talvez de pessoas aptas a ocuparem esses novos postos.
Quais países estão mais preparados para essa mudança de cenário? Noruega? Finlândia?Aqueles que têm profissionais preparados para realizar gama maior de tarefas. Que têm conhecimento técnico, mas que trabalham bem com interação social. Os países nórdicos são exemplo. O nível de automação é bem maior. Os postos de trabalho de lá exigem muito mais do profissional. Ele precisa ter inteligência social, ser capaz de fazer coisas que os robôs não fazem.
Podemos projetar um aumento da desigualdade de renda nas próximas décadas?
Acho que ainda é muito cedo para dizer isso. Depende de uma série de variáveis e de quais grupos serão, de fato, impactados por essa mudança. Depende do impacto nos salários e, mais uma vez, da penetração dessas tecnologias nos países em desenvolvimento.