A nova fase da investigação sobre o tráfico de influência no porto de Santos pegou o governo federal em plena mudança de ministério. Em geral e – o que é mais sensível – na equipe econômica. Até a prisão de mais dois amigos próximos de Michel Temer, Henrique Meirelles parecia ter vencido a queda de braço contra Romero Jucá (PMDB-RR). O ministro da Fazenda encaminhou a sucessão para seu número 2, Eduardo Guardia. Jucá tentava emplacar Dyogo Oliveira, do Planejamento.
Ao comentar a sucessão à coluna, em passagem por Porto Alegre, Meirelles lembrou que sua turma chegou a ser chamada de “equipe dos sonhos”, pelo perfil técnico e passado limpo. É fato. Foi o que se salvou depois da montagem de um ministério composto, em sua maioria, por envolvidos em investigações – Jucá foi justamente o primeiro a cair – e políticos opacos, quando não medíocres.
A imposição do nome de Guardia suscita especulações sobre sua capacidade de manter a agenda econômica. Valorizado por empresários que lembram de sua passagem pela Secretaria do Tesouro no governo Fernando Henrique Cardoso, Guardia é a antítese da média do Planalto.
Se seria difícil antes do emparedamento presidencial, agora tende a piorar. O foco do governo vai voltar à defesa do mandato, como ocorreu em maio de 2017. A rejeição das duas denúncias criminais contra Temer custou a votação da reforma da Previdência.
O único ativo do Planalto é uma retomada clara, mas frágil e inconstante. Os indicadores patinaram em terreno escorregadio neste início do ano, levando o Banco Central a dois cortes de juro inesperados e, em seguida, à liberação de R$ 25,7 bilhões em depósitos compulsórios. Se o caso político se agrava, o econômico convalesce. Precisa de cuidados.