Quanto mais detalhes dava o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, sobre sua eventual renúncia ao cargo para disputar a Presidência da República, mas claro ficava que a decisão está tomada. Nesta segunda-feira (26), a informação de que Meirelles deixará a pasta no dia 7 de abril chegou a ser confirmada pelo Palácio do Planalto, enquanto o ministro cumpria agenda em Porto Alegre. Foi apenas atropelada pelas circunstâncias. Meirelles afirma que ainda vai estudar as pesquisas qualitativas que encomendou – um sinal da seriedade do plano – para tomar a decisão. Em entrevista exclusiva à coluna, ao comentar a eventual semelhança com a trajetória de Fernando Henrique Cardoso, que saiu da Fazenda para se eleger presidente em 1994, considerou comparáveis os legados do Plano Real e da reação na economia. Além disso, o ministro esteve acompanhado por uma equipe que registrou em vídeo os momentos da visita – algo que nunca se viu em titulares da Fazenda, sempre circunspectos.
Houve certo atropelo no rito do anúncio de sua candidatura?
Não, é um processo normal de ansiedade (pausa) coletiva. Estou em processo de decisão se vou permanecer no Ministério da Fazenda até 31 de dezembro deste ano ou se saio para me candidatar até 7 de abril. A ideia é tomar a decisão na próxima semana, estou coletando dados. Mandei fazer extensa pesquisa qualitativa ouvindo grupos de diversos setores, e em que se exploram temas importantes para o Brasil, para ver o que os eleitores esperam de um futuro presidente da República. A partir daí, testamos uma série de coisas que estamos fazendo hoje no Ministério da Fazenda. Continuo tendo discussões com diversos partidos para ver até que ponto temos uma visão em comum sobre o futuro próximo para o Brasil. A partir daí vou tomar uma decisão. É normal que, às vezes, o jornalista conversa com alguém que entende que a pessoa já anunciou algo quando, na realidade, não é o caso, é uma interpretação do que foi dito. É normal e mostra que existe certa expectativa, o que é bom.
Conversou com Temer sobre a confirmação do Planalto?
Já conversei duas vezes com o presidente hoje, já falei com o chefe de comunicação do Planalto também, e estamos, como sempre, totalmente sincronizados. Tenho conversado com o presidente a esse respeito e vamos tomar a decisão na hora certa.
Tudo se acelerou na viagem do final de semana com Temer?
Não houve conversas aprofundadas na viagem. Havia vários ministros, todos estávamos com o presidente. Muitas pessoas entenderam como uma viagem de campanha, quando era agenda normal da presidência da República, de entrega de obras.
Foi a primeira vez que o senhor foi visto de boné...
Primeiro, era inauguração de obra. Depois, o sol estava muito forte (risos).
O senhor já sabe o resultado dessas pesquisas?
Ainda não vi. Vão começar a me apresentar amanhã, até quinta-feira.
A única hipótese é se candidatar a presidente?
Tenho considerado há um bom tempo, a hipótese de ser candidato a presidente. O que tem sido discutido é que o presidente Temer e eu estamos no mesmo projeto de instauração de crescimento de Brasil, implantação das reformas. Caso eu decida ser candidato e caso ele confirme que é candidato, vamos ver qual será a melhor alternativa do ponto de vista eleitoral. O importante para o país é que se mantenha essa direção, que continue a crescer, continue a modernizar, fazer reformas. O importante é não voltar atrás. Projetos pessoais são menos importantes.
A confirmação da condenação do ex-presidente Lula define o cenário eleitoral?
À questão penal, que é essencialmente jurídica, embargo, agravo, todo tipo de terminologia judicial. Mas um processo judicial tem de seguir seu curso. Uma vez definido, decisão judicial não se discute. A consequência, em relação à Lei da Ficha Limpa, tem impacto eleitoral, na medida em que ele tem posição forte nas pesquisas.
Outro caso de ministro da Fazenda candidato foi FHC, com respaldo do Plano Real. Avalia que a retomada econômica que o Brasil começa a assistir tenha o mesmo apelo?
Acredito que sim, mas com tempos diferentes. O Plano Real teve efeito muito rápido. A hiperinflação caiu rapidamente. Deu grande esperança à população durante algum tempo, até a próxima crise. Agora, o efeito é similar, talvez até mais forte. Ao longo do tempo, acredito que o crescimento é mais sustentável e de maior duração, porque a questão fiscal, que não foi possível resolver naquela época, está sendo enfrentada e resolvida. Esse é o lado que diria que tem maior similaridade, mas que é até mais forte. Por outro lado, temos processo um pouco mais demorado de percepção. Não é como ter inflação de mais de 1.000% que baixa de repente para um dígito. Temos de ver a evolução da percepção da sociedade. A melhora econômica é até mais sólida e mais forte, mas demora mais tempo.
Quem é seu candidato à própria sucessão no ministério?
Temos vários secretários lá de altíssima qualidade. Temos Eduardo Guardia, secretário executivo, preparado para ser ministro; temos Mansueto (de Almeida), de Acompanhamento Econômico, de primeiríssima linha, altamente respeitado no mercado... (cita todos os secretários do ministério). Temos uma equipe que quando foi nomeada foi chamada de equipe dos sonhos, lembrando aquele famoso time de basquete internacional. É uma equipe espetacular, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, também. Vamos ver, se eu sair porque decidi ser candidato, quem será a escolha do presidente da República.
É viável votar a reforma da Previdência ou há um plano B?
O plano A é a reforma da Previdência. O problema de não ter sido votada em fevereiro foi o decreto da intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro, porque a Constituição proíbe alteração em seu texto durante uma intervenção federal em um Estado. Foi algo criado para prevenir que regimes autoritários e situações de exceção no país se tornassem permanentes, então criou-se essa salvaguarda em 1988. Temos de aguardar o final da intervenção no Rio. A intervenção deve, espero, terminar ainda neste ano, a tempo de podermos votar a reforma da Previdência em outubro ou novembro. A questão com a reforma não é quando nem se será votada, nem se é necessária. A reforma da Previdência será votada no Brasil. Ponto. Estamos discutindo o momento. E vai além da questão do teto de gastos. Em 2017, 57% do orçamento da União foi para a Previdência (sem contar o pagamento dos juros da dívida). Está crescendo. Se nada for feito, teremos 80% do orçamento comprometido, aí não terá dinheiro para educação, saúde, segurança e emenda parlamentar. É inviável. O teto de gastos vai ser seguido, porque no momento em que for superado em um ano, no seguinte haverá correções automáticas: paralisa salários de servidores públicos em valor nominal, não podes haver nenhum tipo de prolongamento de subsídios. É um congelamento generalizado. Pode prosseguir por mais alguns anos, mas, em algum momento, não há dúvida de que o país ficará inadministrável. E a partir daí alguma providência será tomada. Vamos supôr que, lá na frente, no ano sete ou oito depois da aprovação do teto, em 2025, de fato o governo proponha, e o Congresso aprove, eliminar o teto para voltar a gastar, apesar de não fazer reforma da Previdência. O que acontece? Juro e inflação vão subir, vamos perder o controle e entrar em recessão de novo. Não há solução.
O juro básico caiu 50%, mas só 14% para consumidores e 15% para empresas. O para fazer para acelerar esse processo?
Primeiro tem de manter a inflação e Selic baixas. Segundo, a Taxa de Longo Prazo do BNDES tem de começar a funcionar, e vai. É questão de tempo agora para dar maior força à política monetária do Banco Central manter a inflação baixa com juro mais baixo. No momento em que se consolida a trajetória de Selic mais baixa, vai permitir a continuidade no processo de queda dos juros bancários, com uma série de outros projetos. A duplicata eletrônica reduz o custo do crédito para pequenas e médias empresas, o cadastro positivo, que foi aprovado no Senado e precisa passar na Câmara, permite a queda do custo do crédito para pessoa física. Há projetos que vão diminuir a inadimplência, aumentar o valor das garantias. Com a retomada da economia e a diminuição do número de falências, recuperações judiciais, perdas, com o reforço dos bancos públicos, como agora está acontecendo na Caixa Federal e já aconteceu no Banco do Brasil, que vão competir mais...
Já não vimos usar banco público para baixar juro, sem resultado?
É um processo natural de reforçar a administração, o capital, não baixar juros artificialmente. Quando os bancos são mais saudáveis, têm de competir agressivamente no mercado. Com bases e procedimentos de mercado, como estão fazendo. O que é importante em um banco público é que ele assegure a competição no mercado, não tente fazer o contrário. O que não se pode é permitir ausência de competição.