Dúvida no ano passado, o descolamento entre economia e política parece consolidado. Enquanto o país segue mergulhado em inquéritos, intervenções e demissões, até a arrecadação federal deu um claro sinal de reação em janeiro. O superávit primário (resultado positivo da diferença entre receita e despesa) de R$ 31 bilhões foi o maior em duas décadas (desde 1997).
Boa parte desse resultado veio do aumento de 11,7% em relação a janeiro de 2017 na receita da União. Isso quer dizer que a economia está gerando mais impostos, taxas e contribuições. Embora a Receita mencione efeito sazonal, para um país que apenas saiu da recessão é um dado significativo para apontar reação.
Como sempre há um porém, há pelo menos dois problemas graves embutidos nos indicadores favoráveis.
O primeiro e mais importante é a dificuldade de fazer o efeito chegar a um número maior de brasileiros. O desemprego diminuiu, mas ainda discreta e precariamente. Além disso, falta eco nos resultados lá fora. O Brasil segue visto com preocupação, tanto pelas agências de risco – agora só falta o rebaixamento pela Moody’s na nota de crédito – quanto pela reverberação do improviso da intervenção no Rio no Exterior.
Ao contrário de ações planejadas, que exibem sua estratégia ao longo do tempo, o teste do “choque de segurança” expõe a cada dia novas vulnerabilidades. Até porque a intervenção substitui a reforma da Previdência na agenda do Planalto, evitar um fiasco no Rio é vital tanto para dar um alento aos brasileiros exaustos de conluio e incompetência no combate ao crime como para a imagem do Brasil lá fora.