Em sua segunda entrevista como presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell avisou que vai reduzir as antecipações de sinais sobre decisões futuras. Mas o gráfico de pontos (dot plot) do Fed mostrou que, como já antecipava o mercado, oito diretores do banco central americano estima quatro elevações de juro neste ano. O número dos que projetam apenas três caiu de oito para sete. Então, teria se formado maioria que vê mais duas elevações, previstas para setembro e dezembro – uma no final de cada trimestre. Para o Brasil, isso representa maior risco de alta no dólar e maior pressão para que o Banco Central eleve o juro básico também por aqui.
No Brasil, a cotação do dólar, que estava em ligeira queda, virou para alta logo depois do início da entrevista coletiva de Powell. Como se esperava, o Comitê de Política Monetária (Fomc, na sigla em inglês) do Fed elevou pela segunda vez no ano a taxa americana de referência. Depois de março, quando havia aumentado outro 0,25 ponto percentual, houve outro ajuste de mesmo tamanho, levando para o intervalo de 1,75% a 2% ao ano. A alta era esperada e estava precificada, ou seja, estava embutida nos nível atuais do dólar, da bolsa e dos juros futuros no Brasil – os ativos que respondem mais rápida e diretamente às decisões do Fed.
Os EUA passaram quase uma década com taxa de juro negativa depois da crise de 2008.
Antes, a última elevação havia ocorrido em 2006, e o Fed só voltou a mexer na referência em dezembro de 2015. Desde então, saiu do intervalo entre zero e 0,25% – sim, ao ano – para o teto atual de 2%.
O baixo juro americano bombou as bolsas de valores, especialmente a de Nova York e a do Brasil, nos últimos meses. Criou uma imensa quantidade de recursos "livre" na economia global em busca de rentabilidade. Com a alta do Fed, boa parte deve voltar ao porto seguro dos Treasuries, os títulos do governo americano, assim que isso representar algum ganho.
A inquietação tão grande com o juro americano decorre da experiência histórica: se a maior economia do mundo – e a mais segura – elevasse oferecesse remuneração muito alta a investidores de renda fixa pode mergulhar países com economia mais frágil em crise. A perspectiva de juro mais alto nos EUA torna o país um ímã de recursos, que migram em busca de maior remuneração com baixo risco.
A face mais dramática desse efeito ocorreu na década de 1980, quando a mudança brusca no patamar de juro nos EUA provocou a crise da dívida que atingiu quase toda a América Latina. E levou o Brasil à moratória.