Não se sabe exatamente para quem, mas a secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, achou prudente avisar que “não há razões para comemorar” o gigantesco déficit público com que o governo federal fechou 2017, R$ 124 bilhões.
Eventuais festejos estariam relacionados com o fato de que o governo havia pedido licença para aprofundar esse buraco até R$ 159 bilhões. E porque Ana Paula, fiscalista respeitada entre fiscalistas – economistas com foco no ajuste das contas públicas –, deve conviver com gestores que, em algum realidade paralela, consideram a hipótese de louvar um rombo de R$ 124 bilhões.
O resultado, é verdade, ficou abaixo do teto anterior, de R$ 139 bilhões, e muito inferior ao registrado em 2016, de R$ 154 bilhões. O “erro” na estratégia assusta quem ficou sem obra, sem vacina ou sem passaporte por conta dos apertos orçamentários, mas é atribuído à dificuldade de “prever corretamente” o déficit.
Embora a reação da economia não tenha mostrado seus efeitos para todos os brasileiros, já incide sobre alguns indicadores. A arrecadação de impostos, por exemplo, voltou a subir depois de três anos de queda. A soma de impostos e contribuições federais cresceu modesto 0,59% acima da inflação, como anunciado na sexta-feira passada (26). Ainda não se conhece a variação do Produto Interno Bruto (PIB) do ano passado, mas há razoável consenso de que flutue em torno de 1%.
Para 2018, as perspectivas ainda estão mais perto de 3% do que de dois. A arrecadação federal deve se manter em alta, o que ajuda no preenchimento do buraco. Mas é preciso que o próprio Planalto guarde a prudência necessária de quem lida com um resultado negativo de mais de uma centena de bilhões.
Há absolutamente nada a comemorar e tudo ainda a fazer para evitar que a grande parte do orçamento sem recheio acabe se transformando em mais dívida em um país já comprometido.