Em outubro de 2016, a média das taxas de juro de mercado para pessoa física era de 158,6%. No mês passado, estava em 135,5%. Enquanto o Banco Central (BC) cortou mais de 50% na Selic, a redução na ponta final empacou em torno de 15%.
Além da pressão da inadimplência, do excesso de crédito direcionado e do volume de recursos que os bancos são obrigados a recolher ao BC sem remuneração, há outra ferramenta de escavação do abismo entre a o juro básico e as taxas de mercado.
Quando o BC teve de elevar a Selic para 14,25% para conter a inflação, patamar que se manteve por mais de um ano, de julho de 2015 a outubro de 2016, o melhor negócio para os bancos era comprar títulos do governo. Risco baixíssimo, operação simples. No balcão do financiamento, havia perigo iminente.
Combinavam-se a disparada de pedidos de recuperação judicial, que significa “devo, não nego, tenho dois anos para pagar” – e complexa avaliação de risco de crédito. Os bancos atendiam um a cada 10 pedidos de empréstimo, de empresas ou pessoas físicas.
Um empresário relata ter ouvido há pouco que seu banco passou a liberar quatro em cada 10 pedidos de crédito. É uma estimativa, não uma estatística, mas ajuda a entender a diferença na velocidade de redução do juro no BC e na ponta. Antes, o mais lucrativo era emprestar para o governo. Agora, os bancos passam a aceitar mais risco em troca de maior remuneração, mas ainda não há competição. Quanto mais se estender no tempo o piso do juro básico – está em 7% e deve ir a 6,25% em fevereiro –, maior será a pressão para que os bancos repassem o corte pela metade que o BC fez em 12 meses.