Não precisa ser cartomante para prever uma carta no futuro de Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central (BC). O resultado surpreendentemente baixo da inflação medida pelo IPCA divulgado na sexta-feira – 0,28% em novembro – levou o acumulado em 11 meses a 2,5%, o mais baixo desde 1998. E eleva a possibilidade de que o indicador feche o ano abaixo de 3%.
Na hipótese de que em dezembro o custo de vida não suba muito mais do que no mês passado, o IPCA fechará o ano abaixo do piso fixado pelo sistema de metas de inflação. Para lembrar: o BC tem mandato para limitar a variação média de preços em 4,5%, ou, ao menos, dentro do intervalo entre 3% (piso) e 6% (teto).
Se os resultados ficarem fora dessa margem de variação, o presidente do BC é obrigado a escrever uma carta pública justificando o descumprimento.
Esse sistema vigora no Brasil desde 1999. Desde então, o presidente do BC de turno – no caso, Armínio Fraga em dois anos, Henrique Meirelles e Alexandre Tombini em um cada – assinaram as missivas em 2001, 2002, 2003 e 2015. Foi quando a inflação estourou o teto – no caso de 2015, a explosão foi grande: o acumulado foi de 10,65%, quase o dobro do limite máximo.
Em 2004, 2005 e 2008, não cravou na meta, mas ficou no intervalo. Em 2006, 2007 e 2009, testou o espaço abaixo do centro, mas dentro da margem de tolerância. Mas nunca, nunquinha, furou o piso.
Ilan só não está preparando a carta com alegria – a essa altura, a probabilidade é alta – porque sabe que parte da façanha se deve à recessão que os brasileiros enfrentaram entre 2015 e 2016. Só foi possível submeter o dragão com doses cavalares de desemprego e perda de renda.
O melhor para todos foi extraído do pior para alguns.