Eles são do mesmo partido e enfrentam crise similar nas finanças públicas. Na quarta-feira, o presidente interino Michel Temer sancionou aumentos salariais de até 41% para servidores do Judiciário. Pouco mais de 24 horas depois, o governador do Estado, José Ivo Sartori, decidiu recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar o aumento de 8,31% aprovado e promulagado pelo Legislativo também para funcionários do Judiciário, além de Assembleia, Defensoria Pública, Ministério Público e Tribunal de Contas do Estado.
O reajuste para os servidores gaúchos foi concedido quando outras categorias, com média salarial bem inferior, também pediam reposição e, por estarem vinculadas ao Executivo, sem a liberdade orçamentária dos outros poderes, não foram atendidas. Nem serão.
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Quando Sartori se recusou a sancionar a derrubada de seu veto pela Assembleia, ainda permitia a leitura de que fazia jogo de cena. Ficava confortável com seu discurso e não criava conflitos imprevisíveis. A decisão de recorrer ao STF muda essa percepção. É um tanto quanto quixotesco recorrer à Justiça para questionar aumentos para o Judiciário, ainda mais diante da comparação federal e estadual.
É bom lembrar que há uma diferença fundamental entre a União e o Estado. A primeira tem instrumentos monetários e fiscais para se financiar, inclusive ampliando expectativas de déficits já gigantescos. A unidade da Federação, mesmo aliviada de parte das prestações do serviço da dívida, não tem a quem recorrer. Sartori escolheu ser coerente, o que não é pouco. Afinal, se o aperto não vale para todos, não vale para ninguém.