É possível transmitir aos filhos o conteúdo das escolas sem eles irem à ela? É claro que sim. E creio que nem seja tão difícil, embora percebo que os pais superestimam o que sabem.
A questão é que o conteúdo não é tudo que a escola ensina. Dado o encolhimento da experiência da rua, somado a que as famílias estão menores, sem a profusão de irmãos e primos, a escola tornou-se o principal palco da socialização. Como fica para quem não sai de casa? Como participará da sua geração? Em que momento entrará no mundo?
Crescer é sair de casa. Crescer é sair da barra da saia da mãe e de sua influência. Crescer é poder pensar diferente dos pais. De onde vai sair a possibilidade de pensar além da cultura familiar?
Existem casos raros em que essa escolha se impõe, mas grosso modo creio que a educação domiciliar é a transmissão da fobia dos pais. Cada aula em casa, cada lição, é uma colher de medo ao mundo que é ministrada. São pais medrosos que transmitem seu pior defeito. São pais que não elaboraram os traumas da vida escolar e privam seus filhos de uma experiência que pode ser diferente. São pais inseguros que temem que seu filhos questionem suas crenças então os retêm na bolha doméstica. São pais sem respostas para a contemporaneidade que encerram seus filhos no medievo de suas crenças.
As escolas não são perfeitas, eu tenho, e qualquer um tem, mil críticas a ela, mas acredito que uma escola ruim é ainda melhor que escola nenhuma. Onde a criança vai desenvolver a sua inteligência social senão no atrito, nem sempre agradável, com outras crianças. Será que privar crianças da escola não seria uma espécie de bullying ainda pior? Pois a coloca como incapaz se sobreviver aos outros.
Existe um território pouco claro para quem estuda a inteligência: as inteligências específicas se desenvolvem uma a uma, mas algumas possuem uma capacidade de generalização que auxiliam o desenvolvimento das outras. A inteligência social, a capacidade de ler as situações, saber negociar para melhor se situar, é uma dessas. Esqueça o nerd sabichão, ele é mais uma figura da literatura do que da realidade. Por alto, crianças com boas habilidades sociais – não necessariamente as populares – se saem melhor na escola.
O próprio desenvolvimento da inteligência pode ser comprometido se privarmos a criança da liberdade para fazer amigos, ou seja, desenvolver habilidade social. Isso sem falar que as crianças aprendem umas com as outras. Como elas estão emparelhadas, sabem da dificuldade do parceiro, porque recém passaram por isso. Essa aprendizagem lateral é fundamental para as crianças criarem laços de troca e noções solidariedade. Um dia ela aprende, outro ela ensina.
Usa-se também o termo em inglês, homeschooling, creio que para afastar do que ela realmente é: uma ideia de jerico.