Não faltam elementos históricos, lendas, heróis e vilões quando o assunto é Gre-Nal. Em mais de 110 anos de existência, um dos principais clássicos do mundo terá um novo capítulo no próximo sábado (6), no Beira-Rio – a 434ª página desse livro escrito por gremistas e colorados.
Pela primeira vez na história do Gre-Nal, o clássico terá torcida única. A partir da punição ao Grêmio por conta dos incidentes na derrota para o Palmeiras na Arena, no último dia 31 de outubro, torcedores gremistas estão impedidos de marcar presença em jogos do time como mandante e também como visitante.
Jamais, em 433 partidas disputadas, a torcida de um dos clubes ficou de fora do Gre-Nal. Pelo menos não há registro disto nos arquivos dos clássicos ocorridos na Baixada, na Chácara dos Eucaliptos, Timbaúva, Eucaliptos, Olímpico, Beira-Rio, Arena e outros estádios do Interior e até no Uruguai.
Ao consultar historiadores do futebol gaúcho, como Raul Pons (especialista em dados do Inter) e o site Grêmiopédia (de vasto material a respeito do Grêmio), tal fato também se confirma. No Gre-Nal, ao que conste, as torcidas colorada e gremista, em proporções iguais ou diferentes, sempre estiveram presentes, inclusive de forma mista. Ou sem ninguém, como foi nos últimos nove confrontos entre eles por conta da pandemia do coronavírus.
O caso é curioso porque trata-se de uma medida punitiva ao Grêmio, imposta pelo STJD. O Gre-Nal é um dos principais clássicos do mundo que não tem restrição de torcedores. Em outros estados, a torcida única está instituída há anos, como em São Paulo, por exemplos. O último jogo com presença dos dois públicos foi em 2016: Palmeiras 1x0 Corinthians. Isto ocorre também em Minas Gerais e Goiás.
Na Argentina, país vizinho, jogos, não só clássicos, só são realizados com torcida única há quase 10 anos. Desde 2013, o Campeonato Argentino convive com penas severas a torcidas envolvidas em violência. Após o assassinato de um torcedor em junho daquele ano, a Associação do Futebol Argentino (AFA) e o Governo Federal impuseram a torcida única em todos os jogos. Era para ser temporário, mas já dura oito anos.
Houve uma vez que o Gre-Nal quase teve torcida única. Foi em 2013, no primeiro clássico da Arena do Grêmio. A Brigada Militar decidiu que o jogo não teria torcedores do Inter. A instituição avaliou, na época, que não teria condições de dar segurança aos colorados no deslocamento até o palco da partida. A decisão, avalizada pelo Ministério Público, foi revertida posteriormente pela ação da diretoria dos dois clubes.