Seul – Você talvez não tenha se dado conta, mas estamos por viver a maior disrupção de nossa geração. Faz pouco mais de seis meses que este espaço apresentou o ChatGPT como um “robô esperto” que mudará a forma como trabalhamos, fazemos consultas na internet e nos informamos. O que era promessa começa a se materializar em centenas de apps que prometem facilitar nossas vidas e acelerar a produtividade. Em comum, eles buscam um lugar ao sol nesta corrida maluca em que se meteu o planeta – ou pelo menos a parte que já acordou para a revolução da inteligência artificial generativa.
Na Coreia do Sul, onde nasce boa parte das novidades eletrônicas e se produzem muitos dos chips mais avançados, o esforço é para levar o país ao terceiro lugar nesta corrida, atrás de EUA e China. Não será pelas armas que as duas superpotências remanescentes disputarão a primazia de controlar a economia e o comportamento do planeta. Essa nova guerra já começou com boicotes na venda de tecnologias e matérias-primas fundamentais para a IA. Vencerá o confronto aquele que tiver as empresas que dominem as soluções e conquistem a adesão dos usuários.
Não é de pouca coisa que está se falando por aqui. Trata-se, entre tantas outras transformações, da substituição de serviços de busca, como o Google, pela interação direta com a inteligência artificial, como o ChatGPT. Difícil de entender ou imaginar para quem não usa a já famosa sigla em inglês (GAI) para resumir os novos modelos de inteligência artificial? Não se preocupe, muito em breve você estará usando sem se dar conta – ou sendo usado, porque o ChatGPT se vale de um manancial de dezenas de milhões de sites (a grosso modo, divididos entre corporativos, acadêmicos e jornalísticos) para fornecer respostas a consultas e prever dúvidas seguintes. Ou seja, neste momento, já está sugando conteúdo alheio – de organizações, cientistas, professores e jornalistas – para criar o maior negócio das próximas décadas. É por isso, e porque a coisa toda ameaça sair de controle, que o mundo discute a regulamentação da GAI.
O Brasil está onde? Ainda bem atrás na corrida, mas nem tudo é motivo de embaraço. Há setores tecnológicos no Brasil, como o de pagamentos eletrônicos, que fariam corar banqueiros e comerciantes coreanos e taiwaneses, que lideram a produção de chips mas desconhecem as alegrias e facilidades de um Pix. Em memoráveis crônicas sobre a Coreia do Sul na Copa de 2002, David Coimbra nos apresentou a um novo mundo de tecnologias e incríveis façanhas coreanas, como banheiros públicos sempre cheirosos. Se estivesse aqui, ele poderia se orgulhar de suas argutas predições de duas décadas atrás, mas fique tranquilo: em seu avanço, a inteligência artificial não produzirá banheiros imaculados e muito menos talentos como o de David.