Nem a internet e nem o cachorro-quente. A melhor ideia que os Estados Unidos já tiveram, segundo o historiador Wallace Stegner, foi a criação de parques nacionais para proteção da natureza e usufruto das gerações futuras. A definição caiu tão bem que se transformou em slogan informal do Serviço Nacional de Parques dos EUA, um potentado que administra nada menos que 250 milhões de visitantes por ano a mais de 400 áreas de conservação.
Desde a criação do Parque de Yellowstone, em 1872, a ideia iluminada de preservar vastas áreas naturais ganhou o mundo, que tem hoje mais de 100 mil reservas oficiais. Mas nem tudo são, literalmente, flores. Boa parte das áreas só existe no papel. No Brasil, há 58 parques nacionais que, em grande parte, vivem entre o abandono, problemas de demarcação e invasões. Nenhuma ideia boa fica de pé se não for colocada em prática — e um turismo controlado, em áreas específicas, é a melhor forma de pressão para que os parques brasileiros ganhem vida de fato.
Recentemente, parques como o espetacular Aparados da Serra começaram a ser concedidos à iniciativa privada. É uma esperança, mas, convenhamos, o valor do ingresso — R$ 94 por pessoa, com direito a visitar dois parques por sete dias — é um preço salgado para um família só de passagem pelo cânion. Quem fez o business plan da concessão pode ter suas razões, mas afugentar visitantes de menor renda contraria um princípio básico dos parques nacionais: despertar o respeito pela natureza por meio do convívio amistoso com ela.
O Rio Grande do Sul teria muito a ganhar, do ponto de vista ambiental e turístico, com uma exploração racional de seus parques nacionais e estaduais — e também com a criação de novos. Dos seis biomas brasileiros, só o do pampa gaúcho não conta com um parque nacional. Algumas áreas devem ser mais protegidas, mas nunca abandonadas, como o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, incompreensivelmente esquecido e ainda ocupado por cabeças de gado entre levas de aves migratórias.
Parques não devem ser apenas preocupações do Estado ou da União. Outro dia, os colegas do Atualidade, da Rádio Gaúcha, citavam a criação do Parque Marinha do Brasil como uma das maiores realizações do prefeito Guilherme Socias Villela. Muito justo. Um dos maiores legados de um prefeito é proporcionar às gerações futuras a preservação e o usufruto de áreas comuns. Por falar nisso, o que o seu prefeito está fazendo para que a cidade não devore espaços verdes que poderiam se transformar na melhor ideia que já tiveram? O futuro agradece.