O chanceler Konrad Adenauer tinha 87 anos quando concluiu sua obra de reconstrução de uma Alemanha próspera e democrática no pós-guerra. Aos 80 anos, de olhos no futuro, o presidente Joe Biden já lançou uma série de programas na casa do trilhão de dólares para estimular a produção de chips, sustentar a transição ambiental e renovar a infraestrutura dos EUA. Não é a idade, portanto, que emperra Lula de olhar para a frente – e sim a mentalidade que impõe a seu governo, até agora guiado pelo espelho retrovisor.
É bem verdade que, na campanha, Lula limitava-se a prometer reviver seus governos anteriores e a dizer que não tinha direito de errar. Pois Lula está errando feio ao não conseguir deixar o túnel do tempo emocional no qual se mesclam o ex-líder sindical, o ex-presidente do PT e o ex-preso comprometido pela gratidão aos que não o abandonaram. Pode ser compreensível, mas é muito pouco para se liderar um país com as dimensões, complexidades e exigências desta quadra da História.
Entende-se que, com o passar dos anos, as zonas de conforto vão se estreitando e memórias de antanho tragam alentos. Mas governos deveriam se pautar por aqueles avisos em letras miúdas nos prospectos de investimentos: ganhos passados não são garantia de retorno futuro. Lula ignora a máxima e dobra a aposta em dois grandes desacertos. O primeiro é ter se deixado tomar como refém de uma agenda mais petista que nunca, esquecendo que deve sua eleição por margem estreita a uma coalizão antibolsonarismo que foi muito além da esquerda tradicional e abarcou até uma parte da centro-direita liberal.
O PT detém 13% da Câmara e a base ideológica do governo não passa de 130 deputados. Não surpreende que sofra seguidas derrotas no Congresso. Portanto, ou Lula isola a pressão mais à esquerda, como fez nos primeiros mandatos, ou seu governo seguirá uma sucessão de intenções e discursos inócuos pontilhados aqui e ali por um ou outro acerto, como o chega-pra-lá no garimpo ilegal em terras ianomâmis.
O maior erro de Lula, porém, é não assimilar que o Brasil e o mundo mudaram muito em duas décadas. O planeta vai na direção de energias renováveis, se move cada vez mais em veículos elétricos e disputa a hegemonia da inteligência artificial. Enquanto isso, um Lula saudosista manda dar subsídio para carro a gasolina, faz um governo de compadres e segue enfeitiçado por poços de petróleo, Guerra Fria, imperialismo e sindicatos do ABC. O futuro está passando na janela. Ele é digital, sustentável e rejeita tiranetes à moda de Nicolás Maduro. Mas Lula não quer ou não consegue ver.