Na entrevista ao Jornal Nacional, o presidente Jair Bolsonaro jactou-se de ter nomeado apenas ministros pelo critério técnico. Não é bem assim, até porque líderes do centrão, como Ciro Nogueira, da Casa Civil, têm papel decisivo em seu governo, e a montagem do gabinete contemplou as diferentes correntes que o apoiam. No fundo, a questão de ministérios ou secretariados técnico ou político é uma daquelas discussões intermináveis no Brasil que pouco iluminam o que de fato importa: quão eficiente é um governo?
Dois dos mais marcantes ministros da Fazenda eram políticos e nem sequer vieram da área econômica. Fernando Henrique Cardoso (governo Itamar) e Antônio Palocci (primeiro governo Lula) são, respectivamente, sociólogo e médico. Um virou presidente e o outro se enredou na corrupção, mas enquanto estiveram no comando da economia avalizaram reformas e ações que garantiram a estabilidade e o crescimento, em grande parte por seus méritos na articulação política. Já o ministro Paulo Guedes, que empilha diplomas no campo econômico, bateu de frente com a área política e conseguiu quase nada: nem aprovar as reformas que prometera na posse e nem reverter a sanha gastadora de um Executivo e Congresso de instintos populistas.
Na Educação, Bolsonaro demitiu quatro ministros professores sem carreira parlamentar, enquanto outro professor e agora político Fernando Haddad ainda colhe louros pelos seus sete anos à frente do MEC. Aparentes contradições se repetem em outras áreas. Dois ministros de Bolsonaro - políticos até a medula - Fabio Farias e Teresa Cristina, nas Comunicações e na Agricultura, lideraram iniciativas cruciais para o país valendo-se de seus aprendizados nas negociações parlamentares.
Na Saúde e durante a pandemia, Bolsonaro teve um ministro sensato, o político e médico Luiz Henrique Mandetta, e um desastroso, o técnico e general Eduardo Pazuello. Mas o título de médico não é pré-requisito para uma boa administração na Saúde. O político e economista José Serra, por exemplo, é tido como um dos melhores ministros da área na história recente.
A lista de políticos competentes e técnicos ineficientes, ou vice-versa, seria infindável, porque o que impulsiona administrações não são títulos, ideologia ou mesmo experiências prévias, que podem apenas reprisar erros antigos. Na gestão pública, habitualmente emperrada, o que faz a diferença é blindar carreiras de Estado de pressões políticas, manter em alta o alerta para desvios, definir boas estratégias e reunir esforços para convencer a máquina estatal e o parlamento a apoiar mudanças que garantam um futuro melhor. O contrário é que abre as portas para o inferno.